ACM – 16/04/2004
Duas em cada cinco pessoas que fazem parte da população rural do Mato Grosso se envolveram em conflitos agrários no ano passado. O dado consta em pesquisa da Comissão Pastoral da Terra, divulgada nesta sexta-feira (16).
(Brasília) Duas em cada cinco pessoas que fazem parte da população rural do Mato Grosso se envolveram em conflitos agrários no ano passado. O dado é da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que apresentou nesta sexta-feira (16) o relatório “Conflitos no campo – Brasil 2003”.
Em números absolutos, 2003 foi o ano com o maior número de assassinatos desde o final dos anos 80 e início de 90. Foram 73 assassinatos, em comparação aos 43 registrados em 2002. “Os [trabalhadores] sem terra acreditaram no governo Lula. Eles pensaram “agora é a nossa vez” e foram acampando”, pontuou o presidente da CPT, dom Tomás Balduíno. “Como não tem escritório para credenciamento, eles pegaram a lona e foram para a terra.”
Nesse cenário de mobilização popular do ano passado, destacou Balduíno, emergiram, com destaque, duas outras forças: o agronegócio e o Poder Judiciário. De acordo com a análise de Carlos Walter Porto Gonçalves, professor de geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF), a região Centro-Oeste, onde mais vem se desenvolvendo o chamado “agronegócio”, foi a que alcançou maior índice de violência do campo no ano passado. A região foi a que teve o maior número envolvidos em conflito: 310.592, o que equivale a 26% do total de pessoas que fizeram parte desse grupo em todo o Brasil. “Aquilo que é moderno e que ’salva’ as finanças do país também está impedindo a democaratização na terra”, afirmou o presidente da CPT.
O número de despejados pelo Poder Judiciário também é expressivo: 62.995, o que representa 35,7% do total de desepejos do país em 2003. “O [Poder] Judiciário toma parte para o direito absoluto da prioridade”, destacou Balduíno. “Este caderno [relatório “Conflitos no campo – Brasil 2003″] é a voz dos que não tem voz. Vítimas dos conflitos não só naquele momento. São os excluídos desde sempre”.
Fonte: Maurício Hashizume – Agência Carta Maior