Por Vagner Freitas*
É princípio na democracia o direito de opinar e as divergências fazem parte do processo político, mas nos preocupa quando as consequências de gestos que beiram a irresponsabilidade esgarçam desnecessariamente o tecido do regime. É o que nos parece acontecer com relação à medida provisória que proíbia os bingos e a matéria do jornalista Larry Rohter, publicada no New York Times.
Na semana passada, a derrubada da medida provisória dos bingos, apresentou postura irresponsável e oportunista da oposição. Ao invés de aproveitar o momento e propor a discussão da problemática do jogo, o que está por trás dele, se o melhor caminho é proibi-lo ou regulamentá-lo, ela preferiu, nas palavras do senador Artur Virgílio, líder do PSDB, “apenas colocar o governo no pelourinho”, confessando que a intenção não era exatamente derrubar a medida, mas quiçá brincar uma estranha brincadeira. Tanto que, no dia seguinte, como que assustados com as repercussões, correram os oposicionistas para apresentar projeto de legalização do jogo. O que está por trás da “brincadeira”? O que está por trás do projeto de legalização? O que está por trás desse jeito de fazer política?
Esse tipo de oposição trata mal o país, tão mal quanto o PSDB tratou-o durante a campanha de José Serra, estimulando o medo e a insegurança, a crise do mercado, a inflação, a alta do dólar e do risco-país, tudo como maneira de jogar na candidatura de Lula, como tentam jogar no governo Lula, a marca do caos.
Já a matéria do jornalista Larry Rohter questiona de forma desrespeitosa a conduta e a imagem de um homem público com mais de 20 anos de história política, não por coincidência o presidente da República. O que deu no New York Times é um exemplo perfeito – haveria outros por citar – de certo jornalismo a serviço do que não ousa dizer publicamente o próprio nome e intenções. Há muito aprendemos que textos assim não surgem do nada, da mera especulação, da inocência ou desconhecimento cultural, há muito mais por trás dela.
O governo Lula está longe de ser perfeito, nós temos feito críticas e somos dos que pedem mudanças na política econômica, voltando-a para o desenvolvimento, crescimento, geração de emprego e renda, por mais democracia e melhores condições de vida para os brasileiros. Mas o que parece mover os dois exemplos citados, é o desejo de desgoverno, é o desejo de caos. Aqueles que se crêem donos do país, querem-no de volta às suas mãos para impor-lhe as mesmas receitas antinacionais, impopulares e autoritárias.
O que vimos no Congresso e lemos no New York Times não foi apenas mais uma tentativa de derrotar o governo Lula numa votação de MP ou desgastá-lo numa matéria condenada a embrulhar o peixe comprado na feira, mas a sequência de um processo que visa desgastar o governo, ao provocar-se uma crise que ao invés de contribuir para a solução dos seus inúmeros dramas, estimula o descrédito no governo, no país e na democracia, agravando-se desnecessariamente problemas já em si tão graves.
Como se diz popularmente, estão brincando (ou jogando) com fogo.
*Presidente da Confederação Nacional dos Bancários