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VAGNER FREITAS FALA SOBRE A CAMPANHA SALARIAL UNIFICADA

CNB – 14/05/2004
(São Paulo) Sentado em sua cadeira, após mais uma reunião, o presidente da Confederação Nacional dos Bancários (CNB/CUT), Vagner Freitas, olha angustiado para o relógio. Antes de iniciar a entrevista, pergunto se ele está com pressa. “Não. É que daqui a duas horas eu tenho aula de direção. Tenho carta de motorista há dez anos, mas odeio dirigir, tenho verdadeiro pavor. Agora minha mulher entrou no oitavo mês de gravidez e preciso aprender a guiar para qualquer emergência”.

Se no trânsito Vagner Freitas não se dá bem com o volante, à frente da CNB o sindicalista sabe muito bem como quer dirigir os bancários nesta campanha salarial que está começando. “Este ano teremos novamente a campanha salarial unificada. Não aceitaremos nada menos do que a Convenção Coletiva para os funcionários dos bancos públicos. E queremos uma definição desta campanha até setembro. Ou com um acordo ou com uma greve”.

Para Vagner, a mesa única de negociações ainda não é um assunto superado pelo governo. “Eu acredito que teremos de fazer muita pressão para conseguirmos novamente o cumprimento do Acordo Coletivo, como no ano passado”.

O presidente da CNB revela que já tem uma reunião marcada com o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, para o final do mês, quando cobrará uma posição oficial do governo. “Queremos uma definição já para organizarmos nossa luta”.

Além da campanha salarial, nesta entrevista ao Espelho Vagner fala também sobre a administração do Banco do Brasil no governo Lula. “Está mudando, mas menos do que deveria. O BB hoje continua sendo administrado como se fosse um banco privado que só visa o lucro. A lei do mercado tomou conta. Aí sobra metas e assédio moral para cima dos funcionários, más condições de trabalho, extrapolação da jornada”.

Confira a íntegra da entrevista com Vagner Freitas:

O Espelho – Como você avalia a última campanha salarial dos bancários, em 2003?
Vagner Freitas – Foi uma campanha em que obtivemos um grande avanço. A estratégia que definimos foi vitoriosa e conseguimos conquistar os mesmos benefícios da Convenção Coletiva para os funcionários dos bancos públicos federais. Se isto não aconteceu em 100%, pelo menos conseguimos cumprir o acordo da Fenaban para 95% dos bancários. Esta era uma realidade muito distante nos anos anteriores. Com isto, resgatamos a capacidade de mobilização dos empregados dos bancos públicos, que sempre foi um dos setores mais combativos do movimento sindical bancário. Mas que nos últimos oito anos estava perdendo a disposição de luta, por causa do forte arroxo salarial imposto pelo governo FHC. Agora, nesta primeira campanha salarial do governo Lula, encontramos uma conjuntura mais democrática, com um governo que respeita as manifestações dos trabalhadores.

O Espelho – A mobilização dos funcionários dos bancos públicos foi fundamental para a conquista da Convenção Coletiva para toda a categoria. Mas até que ponto ela ajudou os colegas dos bancos privados na negociação com a Fenaban?
Vagner Freitas – A união de forças sempre ajuda. Hoje temos cerca de 380 mil trabalhadores na categoria bancária. Mais de 35% deles são empregados dos bancos públicos. Então tivemos um aumento no nosso poder de mobilização significativo. Nos anos anteriores, tínhamos uma campanha dividida, isto diminuía a nossa capacidade de pressão.

O Espelho – Um dos pontos mais discutidos na última campanha salarial foi o reajuste composto do índice mais o abono. O que você acha desta composição?
Vagner Freitas – Acho extremamente prejudicial para o bancário. No ano passado patinamos novamente neste assunto. Para a campanha salarial deste ano, não vamos aceitar de jeito nenhum discutir o abono. É uma artimanha dos banqueiros nociva para nós, pois achata os salários a cada ano. Só para se ter uma idéia, pela primeira vez chegamos a um piso salarial inferior a três salários mínimos. Ou seja, o abono é uma compensação momentânea que não se incorpora definitivamente ao salário. Temos de reverter este círculo vicioso. O bancário, que vive enforcado em dívidas, não pode mais cair no canto da sereia dos banqueiros a aceitar o abono. Ainda mais no Banco do Brasil, em que os funcionários fazem carreira e trabalham na empresa por muito tempo. Assim, a cada ano seus salários serão corroídos.

O Espelho – Por falar nisto, o Dieese publicou recentemente uma pesquisa revelando que a maioria das categorias não conseguiu repor a inflação nas campanhas salariais do ano passado. Você acredita que os bancários conseguiram recompor as perdas com o abono?
Vagner Freitas – Nem com o abono conseguimos recompor o que a inflação corroeu dos nossos salários. O reajuste médio que conquistamos foi de 12,6%, enquanto que o ICV (Índice de Custo de Vida) do Dieese registrou um aumento de 15,5%. O abono coloca o dinheiro no bolso do bancário naquele momento, mas não recompõe as perdas.

O Espelho – O Dieese mostrou que esta é uma realidade para a maioria dos trabalhadores. Como o movimento sindical pode reverter este quadro de sucessivas perdas salariais?
Vagner Freitas – Só com mobilização. É a única saída. Pela primeira vez o Brasil elegeu um operário, um trabalhador, para a Presidência da República. Mas isto não quer dizer que agora não temos mais luta de classes. Temos sim e temos que lutar. O governo não pode se preocupar só com o trabalhador, tem de administrar o país, contemplando outros interesses da sociedade. A nós, sindicalistas e trabalhadores, cabe dar continuidade a esta luta histórica por melhores condições de trabalho. Temos de fazer valer os nossos interesses e isto só é possível com mobilização, organização e até a greve, se for o caso.

O Espelho – Como estão os preparativos para a campanha salarial deste ano? Qual é a expectativa?
Vagner Freitas – Já fizemos os preparativos iniciais, juntamente com a Executiva Nacional dos Bancários, sempre acompanhados de perto pelos membros da Comissão de Empresa do Banco do Brasil. Será novamente uma campanha unificada e os eixos que vamos seguir serão debatidos na Conferência Nacional dos Bancários, marcada para os dias 5, 6, 7 e 8 de junho. Nos últimos dois dias do evento serão discutidos assuntos específicos do Banco do Brasil. São 250 delegados do BB e um total de 1.200 trabalhadores participando da Conferência. Depois vamos elaborar a minuta do Acordo Coletivo até o dia 16 de junho, pois já temos pré-agendada para o dia 23 seguinte uma reunião com a Fenaban. Queremos antecipar esta campanha, pois este é um ano atípico com as eleições municipais em outubro. A campanha precisa ter o seu desfecho em setembro, no máximo, com o acordo assinado ou a greve.

O Espelho – Você disse que a campanha será novamente unificada. Você acha que os funcionários dos bancos públicos terão novamente de lutar pelos mesmos reajustes da Fenaban ou acredita que este assunto já está superado pelo governo?
Vagner Freitas – Não é uma questão superada e eu acredito que teremos de fazer muita pressão para conseguirmos novamente o cumprimento do Acordo Coletivo. O governo ainda tem uma idéia conservadora à respeito do assunto. No ano passado tivemos muitas dificuldades para conseguir esta vitória, que só veio depois de uma greve. Nós queremos que o governo se manifeste desde já publicamente se vai cumprir ou não o acordo para organizarmos a pressão. A Convenção Coletiva é o patamar mínimo que se deve cumprir para os funcionários dos bancos públicos. Os empregados do BB, por exemplo, merecem o mesmo tratamento dos colegas dos bancos privados. Qualquer proposta menor do que a Fenaban é inaceitável. A lucratividade do Banco do Brasil não perde em nada para qualquer banco privado. Só que, infelizmente, isto ainda não está muito claro para o governo.

O Espelho – E vocês já começaram a pressionar o governo?
Vagner Freitas – Já temos uma reunião marcada com o ministro Ricardo Berzoini para o final do mês de abril, quando vamos interpelá-lo sobre o cumprimento da Convenção Coletiva. Queremos chegar ao núcleo duro do governo por meio do ministro do Trabalho, que é funcionário do Banco do Brasil, inclusive. Queremos um posicionamento claro e, se for negativo, a campanha salarial deste ano será mais radical que a de 2003.

O Espelho – O que você acha da administração do Banco do Brasil no governo Lula? Está mudando?
Vagner Freitas – Está mudando, mas menos do que deveria. O Banco do Brasil deve ser um agente de desenvolvimento do país. Um financiador dos programas sociais que o presidente prometeu durante a campanha eleitoral. Mas infelizmente, o crédito continua escasso, os juros altos, sem acesso da população mais carente. O BB hoje continua sendo administrado como se fosse um banco privado que só visa o lucro. A lei do mercado tomou conta do banco. O BB é público e deve ter um cunho social. Deve financiar a educação, a cultura, a agricultura, pesquisas científica, enfim… Deve ter políticas sociais, ser um agente de transformação. O governo precisa definir o Banco do Brasil que queremos, pois o de hoje, definitivamente, não é. Ele continua sendo administrado para dar lucro e aí sobra metas e assédio moral para cima dos funcionários, más condições de trabalho, extrapolação da jornada. O mesmo viés do Bradesco e Itaú, por exemplo, que sugam seus funcionários e atendem mal os clientes. O BB está assim: mais lucro; menos custo. Acho que este não é o papel do Banco do Brasil.

O Espelho – O governo Lula deu continuidade ao programa de privatização dos bancos públicos, iniciado por FHC. Como o movimento sindical está trabalhando para barrar as privatizações?
Vagner Freitas – Nós repudiamos veementemente este programa de desestatização dos bancos públicos. Já apresentamos uma proposta que garante a viabilização dos bancos dos estados do Piauí, Maranhão e Ceará, com a incorporação deles ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Nossas propostas foram feitas após muitos estudos e com todo o embasamento técnico, ou seja, não é só discurso. O Besc, de Santa Catarina, é outro que estamos tentando tirar da famigerada lista dos bancos que devem ser privatizados. Ele é um patrimônio do Estado e o próprio presidente Lula disse durante a sua campanha, em Florianópolis, que o Besc não seria privatizado. Isto é, no mínimo, uma incoerência. O argumento de que estes bancos não são viáveis é falso. Falta apenas vontade política. O ponto positivo deste governo é que pelo menos encerrou a história de que o BB e a Caixa seriam privatizados. O presidente Fernando Henrique chegou a prepará-los para a desestatização. Mas o Lula já deu este assunto por encerrado. Esperamos agora que ele tenha esta mesmo consciência em relação aos outros bancos federalizados.

Fonte: Fábio Jammal Makhoul – CNB/CUT

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