04/05/2004
(São Paulo) O Grupo Bradesco apresentou nos três primeiros meses deste ano um lucro líquido de R$ 608,713. O resultado foi 19,92% superior ao mesmo período do ano passado.
O lucratividade do maior banco privado do país se deve principalmente ao aumento no custo dos serviços prestados. As tarifas passaram de R$ 1 bilhão para R$ 1,3 milhões, o que representa um créscimo de 29,7%. Encareceram também os serviços de administração de fundos e as taxas relacionadas ao cartão de crédito.
Outro fator a ser destacado no aumento das receitas foi o aumento do número de clientes do Banco Postal que saltou de 432 mil em março de 2003 para 1,448 milhão em março passado. Com isso, a carteira de correntistas do banco passou de 13,7 milhões para 15,4 milhões no mesmo período. A carteira de microcrédito operada pelo Banco Postal dobrou de R$ 112,8 milhões em março de 2003 para R$ 236 milhões em março passado. No início deste mês, a mesma carteira já está em R$ 270 milhões.
Exploração – Para a diretora-executiva do Seeb SP e coordenadora da COE Bradesco, Juvândia Moreira Leite, o empregado dos correspondentes bancários é amplamente explorado, já que opera como bancário, mas não recebe como. “Queremos que quem trabalhe no Banco Postal seja bancário e receba como bancário”. O que preocupa a dirigente nos correspondentes bancários é a insegurança, o intenso ritmo de trabalho e as péssimas condições de atendimento à população. “Quem perde com os Bancos Postais é a sociedade, já que o banco otimiza os custos e acaba lucrando mais e oferecendo serviços de má qualidade”.
Demissões e negociação com Bradesco – O presidente da CNB/CUT, Vagner Freitas, e o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, João Vaccari Neto, estiveram reunidos hoje com a representação do banco na Matriz, em Osasco. A iniciativa do encontro partiu do próprio Bradesco, na tentativa de justificar o Plano de Demissões que está implementando. Somente no ano passado, o Bradesco reduziu 2.300 postos de trabalho.
Depois da reunião ocorrida no início de março na qual o banco afirmou que só seria demitido quem pedisse, hoje o discurso teve uma pequena alteração. O diretor-executivo do Bradesco, Milton Matsumoto, afirmou que não existem demissões em massa. Segundo ele estão sendo demitidos somente os funcionários acomodados, que tenham ocasionado falhas administrativas ou tenham uma avaliação insatisfatória de seu desempenho.
O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região apurou que já foram demitidos, somente na base desde o dia 9 de março, 106 bancários fora do perfil citado por Matsumoto. O membro da COE Bradesco e diretor da Fetec SP, Pedro Sardi, lembra que apesar de dizer isso, o banco continua demitindo “Conforme orientação da CNB, os sindicatos deve fazer uma carta com a relação dos bancários demitidos que não se enquadram nos critérios declarados pelo banco, e devem enviá-la para o Bradesco aos cuidados de Milton Matsumoto, diretor executivo. A reintegração deve ser solicitada na correspondência”.
Redução com despesas de pessoal – Na divulgação dos resultados do Bradesco foi constatada também a redução de 7,5% com despesas de pessoal. A comparação se dá entre o quarto trimestre de 2003 com o primeiro trimestre de 2004. É de se estranhar, já que foram adquiridos recentemente, o BEM e o Zogbi. No ano passado o Bradesco incorporou o Mercantil de São Paulo e o BBV, além do BCN e Zogbi, neste ano.
Receitas – No primeiro trimestre do ano passado, 43,9% das receitas do Bradesco vinham das operações de tesouraria. Neste ano o percentual, no mesmo período, foi reduzido para 23,2% neste ano.
Expectativa do mercado – De acordo com a economista do Dieese Seção CNB/CUT, Yoná dos Santos, a diminuição dos ganhos com os títulos emitidos pelo governo se deve a expectativa do mercado financeiro a respeito da queda gradativa na taxa básica de juros da economia, a Selic. “A lucratividade com os títulos do governo tende a diminuir em um ambiente favorável à queda da inflação. Esse fato não impede que o banco continue lucrando em outras áreas, como com as tarifas”.
Vale lembrar que o Brasil continua em segundo lugar entre os países que praticam as taxas de juros no mundo. Para Yoná o ideal seria reduzir a taxa Selic pela metade para que a economia possa crescer em um ritmo mais acelerado.
O Bradesco também diminuiu a provisão. “Se trata de uma orientação da Fenaban que está acreditando em uma conjuntura mais favorável para a concessão de crédito, devido ao esperado crescimento da economia”.
Carolina Coronel – CNB/CUT