14/07/2004
(São Paulo) Toda medida legal para estimular o crédito no país é usada da “melhor maneira” pelas bem articuladas instituições financeiras. Cabe ser ressaltado que nessa arena não há boa vontade, e sim visão estratégica para gerar lucro. A partir das Resoluções 3.110 de 31 de julho de 2003 e 3.156 de do Banco Central do Brasil, que ampliaram a atuação dos correspondentes bancários no país, tanto os bancos privados quanto os públicos foram estimulados a levar os serviços bancários até os pontos mais remotos do país.
Concretizar a possibilidade do atendimento bancário em regiões que não contam com agências bancárias, através da instalação de agências pioneiras é um ponto pacífico nesta discussão para a Confederação Nacional dos Bancários. “O problema é que os bancos postais estão atuando ao lado de agências no centro das grandes cidades, e isso está desvirtuando totalmente o papel dos correspondentes bancários”, explica o presidente da CNB/CUT, Vagner Freitas. Segundo o BC, 44% dos postos abertos nos últimos anos ficam na região Sudeste. A região Norte, que deveria ser a maior beneficiada, conta com apenas 5% do total.
Mais vantagens para os bancos – Os correspondentes bancários incrementam os lucros das instituições financeiras já que utilizam a infra-estrutura de casas lotéricas, Correios, padarias, supermercados, farmácias e outros estabelecimentos, integrando a base de segmentação dos bancos. Nos correspondentes da Caixa e Bradesco pode-se abrir conta-corrente, inclusive. O Bradesco se utiliza da estrutura dos Correios e está investindo pesado para que os mais pobres não sejam atendidos nas agências. Conforme informações do jornal o Estado de São Paulo, “o Bradesco pagou R$ 200 milhões em luvas aos Correios para poder usar as suas 5.571 agências como correspondentes bancários até 2009”.
“Os bancos estão afastando a clientela de baixa renda das agências porque é uma parcela da população que rende menores dividendos e exige um contingente maior de funcionários para o atendimento. É um claro processo de elitização do atendimento bancário. Isso é discriminatório e ilegal. Saem perdendo a sociedade, que precisa questionar se o papel dos bancos é esse que está sendo imposto pelas instituições financeiras e a categoria, que vê o nível de emprego despencar. Os bancos tem o dever de atender toda a população”, declara o secretário de Organização da CNB/CUT, Miguel Pereira.
Precarização – As instituições financeiras também impõem tarefas de bancários aos funcionários que trabalham nos correspondentes e passam a atuar como tal. “A precarização que está sendo imposta a esses trabalhadores é descabida e a população acaba recebendo um atendimento em locais aonde sequer há segurança”, exclama Vagner Freitas. “Eles trabalham como bancários, mas não recebem como tal o salário, os benefícios e nem têm o direito à proteção sindical, assim como correm mais riscos por insegurança no trabalho do que e o bancário regular”, complementa o presidente da CNB.
A Folha Bancária, jornal do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, divulga que balanço dos Correios de 2001 demonstra que dos 80 mil funcionários, 23.271 mil atuam no atendimento. “Se o Bradesco tivesse aberto novas agências ao invés de utilizar o convênio, seriam 23 mil novos postos de trabalho”, avalia o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino.
Os correspondentes estão sendo tão incentivados que já superam o número de agências convencionais. Informações do Banco Central referentes ao mês de maio revelam que existem 17.159 agências tradicionais funcionando no Brasil, enquanto o número de correspondentes, em dezembro de 2003 era de 31.317 mil. A Caixa tem hoje 11.000 correspondentes. Até 2006 pretende ter 20 mil.
Os maiores argumentos do BC para criação dos correspondentes foram existir 1.444 municípios sem oferta de serviços bancários e 40 milhões de pessoas sem acesso aos bancos. A partir de 2002 nenhum município no Brasil passou a estar desassistido de serviços financeiros. O que não significa que os 40 milhões estejam incluídos no sistema bancário.
“Os efeitos terceirizantes – por conta da gama de serviços ofertados, pela possibilidade da abertura de empresas para atuarem com fim exclusivo de correspondente, a autorização para todos os agentes do sistema financeiro poderem contratá-los, bem como a concentração nos grandes centros, devem ser combatidos”, conclui Miguel Pereira.
Carolina Coronel – CNB/CUT