Lucro em queda, quantidade de agências e volume de ativos estacionados, cada vez menos funcionários. Esse é um quadro que intriga analistas, concorrentes, clientes e até colaboradores do HSBC Brasil. Afinal, o banco está no país desde 1996, quando comprou o falido Bamerindus; é um dos maiores do mundo, mas não incomoda os concorrentes por aqui.
No primeiro semestre deste ano, os sinais ficaram mais preocupantes: a rentabilidade caiu de 13,7% para 9,5% e o lucro líquido ficou em R$ 454,6 milhões, 24% menor do que um ano antes, segundo balanço oficial publicado ontem.
No começo do mês, quando divulgou os resultados globais, o HSBC reportou um resultado ainda pior para o Brasil, que indicava queda de 70% no lucro – ao passo em que o lucro mundial crescia 22%. Considerando os critérios internacionais de contabilidade, a participação do Brasil nos negócios do HSBC caiu de 5,5% no primeiro semestre de 2012 para 1,3% no mesmo período deste ano.
Para Miguel Pereira, secretário de Organização da Contraf-CUT e funcionário do banco inglês, "há tempos estamos fazendo essa crítica. Tá um sufoco geral dentro do banco e os funcionários não sabem qual é a estratégia da empresa, que muda toda hora. O quadro de funcionários foi reduzido com as demissões. E quanto mais demite e menos investe na equipe, mais fragilizado fica o HSBC diante de seus concorrentes".
Os ativos totais do banco encerraram o semestre em R$ 144,5 bilhões, praticamente no mesmo nível de junho de 2011, quando o novo presidente mundial do conglomerado, Stuart Gulliver, assumiu prometendo mudanças – o que inclui a venda de negócios que não estejam dando retorno atraente (este seria, por exemplo o caso da financeira Losango no Brasil, segundo analistas). De lá para cá, o número de agências do HSBC Brasil continuou estável em 867, mas cerca de cinco mil funcionários foram demitidos – no final de junho, eram 19,9 mil.
O processo de encolhimento continua despertando muitas hipóteses a respeito do futuro do banco – e algumas parecem fazer sentido, embora o banco não confirme. Na semana passada, fontes que preferiram não se identificar disseram que o HSBC estaria saindo do varejo e focando em operações de atacado; que fecharia agências e demitiria ainda mais funcionários; e que mudaria a sede de Curitiba para São Paulo.
João Rached, diretor de relações institucionais do banco, negou os rumores, e disse que há uma constante preocupação com treinamento e qualificação de funcionários, e investimentos crescentes em tecnologia. "O Brasil segue a estratégia global, e nada mudou desde que Gulliver deu as novas orientações, há dois anos. Inclusive, elas foram reafirmadas em maio último", disse.
O texto que acompanha o balanço relativo a 2011 diz que o HSBC Brasil havia iniciado "um processo de ajustes de sua estrutura local, objetivando aumento de eficiência operacional, que ocasionou a revisão de suas equipes internas e a decisão de descontinuidade ou cancelamento de certos sistemas desenvolvidos internamente".
"Se não investir mais, o HSBC não tem como ser competitivo no varejo", diz Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Ratings. "O lado bom é que o banco tem muito dinheiro em caixa, não gosta de correr riscos", diz João Augusto Salles, economista da Lopes Filho.
Para ele, há sim uma clara tendência a enxugamento, mas não de saída do Brasil. "Voltar o foco a operações com empresas com negócios internacionais, de exportação e importação, é uma saída interessante para o HSBC, porque assim o banco poderia aproveitar as sinergias com outras filiais mundo afora – principalmente na Ásia".
Nessa seara, os bancos locais tem menos condições de competir – o HSBC tem contatos e relacionamentos na China como nenhum outro banco brasileiro. "O HSBC é um banco global, não é o maior em nenhum país fora da Ásia, mas preza relacionamentos comerciais", disse outra fonte que também não quis se identificar.
Gulliver fez questão de reiterar a importância do Brasil para os negócios globais do HSBC durante a divulgação do balanço em Londres, e atribuiu o desempenho pior à conjuntura econômica e a mudanças no mix da carteira de crédito – como seus pares, o HSBC estaria se voltando a linhas mais seguras, porém também com margens menores de ganhos.
"No Brasil, faz muita diferença para um banco estrangeiro entrar comprando um ativo de altíssima qualidade ou comprando um nem tanto. O caso do HSBC foi mais difícil pois se enquadra nesse segundo", disse a fonte. "Além disso, os bancos estrangeiros estão sujeitos a mudanças de estratégia global".