Fiquei estarrecido ao saber que as unidades do Banco do Brasil têm meta até de “voluntariado”. Os alimentos, materiais escolares, brinquedos, e outros itens arrecadados entre os funcionários são critérios para pontuar no Acordo de Trabalho (ATB). Vale lembrar que cumprir esse acordo é pré-requisito para, por exemplo, os funcionários receberem a PLR integral.
Em outras palavras, o banco está transformando o que seria voluntário em obrigatório. Se você doar, ganha PLR. Se não doar, não ganha. Ou seja, é um “obrigatoriado”.
Mas alguém poderia dizer: “é por um motivo nobre”. Acredite, não tem nada a ver com altruísmo ou combate às desigualdades sociais. O que o BB faz, de forma idêntica a todos os demais bancos, é “marketing social”. É propaganda. Agrega “valor” à sua marca, buscando dar face humana aos seus objetivos de lucratividade nada humanitários, extorquindo a população com altas taxas e juros.
E faz isso com o chapéu alheio. Nesse caso, com o do funcionalismo, através do “obrigatoriado”. Quem acredita e se dedica ao voluntariado dentro do banco, que pelo menos o faça sem ingenuidade. Porque a finalidade desses projetos não é, nem nunca foi, atenuar as mazelas de um mundo desigual e excludente.
Se fosse essa a preocupação da diretoria do banco, as metas nas agências seriam de Pronaf, DRS e crédito barato aos mais pobres e pequenas empresas, e não de Ourocap, seguros e “CDC arranca couro” para quem não tem dinheiro para suas necessidades mais básicas. Ou se fosse a preocupação do governo, ele destinaria o lucro do banco para as áreas sociais e não para engordar o superávit primário.
Só espero que esse tipo de meta não faça mais parte do ATB, porque se for assim é falso. Se for para estimular o altruísmo, que seja realmente voluntário e que não seja para valorizar a imagem da empresa e aumentar seus lucros.
André Machado
Secretário de Políticas Sindicais e Movimentos Sociais
