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“A democracia começa com a panela cheia”

Há 46 anos, o Brasil amanheceu do dia 31 de março para 1° de abril sob um Golpe de Estado. Até então, os militares brasileiros sempre interferiam na vida política brasileira de maneira indireta, apoiaram e tiraram apoio dos governos civis. Desta feita, a intervenção foi direta e pela força. Havia consenso em entregar o poder aos civis logo em seguida. Lutas intestinas entre a Sorbonne (militares intelectuais) e a linha-dura criaram um impasse que desembocou numa ditadura que endureceu paulatinamente à medida que o tempo passou, culminando com o AI-5 e no período Médici.

Os argumentos para a intervenção foram: corrupção sistêmica dos governos civis; ameaça do comunismo internacional; e um projeto nacional de longo prazo.

Trata-se de muito assunto para um espaço exíguo de coluna de opinião. Mas, ao que tudo indica, o governo militar (que detestava ser estigmatizado como ditadura) criou artificialmente dois partidos para “legitimar” o congresso nacional: MDB e ARENA, oposição e situação, respectivamente, de modo a dar uma face “democrática” ao regime.

A Folha de S. Paulo qualificou de “ditabranda”. Recomendo a todo brasileiro a leitura de “Brasil, nunca mais”, livro que descreve em detalhes as torturas da “ditabranda” (o projeto do livro foi coordenado por Paulo Evaristo Arns, que dispensa maiores apresentações).

Para legitimar-se, o regime de exceção se aliou ao que havia de mais conservador e reacionário no Brasil, as oligarquias arraigadas desde os tempos das capitanias hereditárias.

A corrupção não diminuiu, apenas foi censurada a sua divulgação (procure no Google “relatório saraiva” — Coronel brasileiro adido militar da embaixada em Paris).

Uma reflexão sobre os resultados da ditadura implantada foi o comprometimento da educação no país. O país cresceu, mas não se desenvolveu; aumentou a riqueza e a diferença entre ricos e pobres; concentrou renda; e a teoria do “crescer o bolo para depois repartir” era discurso de um regime de força que não tinha intenções democráticas. Como dizia meu avô, a democracia começa com a panela cheia. De comida e de idéias. Viva a liberdade!

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