O presidente Jair Bolsonaro (PL) viajou, nesta segunda-feira, 27 de dezembro, para São Francisco do Sul, no litoral catarinense, para passar o período do réveillon. A ida do chefe do Executivo à região se dá em meio à tragédia registrada na Bahia por conta das enchentes, que já afetam quase meio milhão de pessoas (471 mil ) no estado. A população local enfrenta fortes chuvas desde o começo do mês e a situação se agravou nos últimos dias, com 60 municípios debaixo d’água.
“É uma completa inversão de prioridades. Enquanto mais de 400 mil pessoas são atingidas por essa tragédia, ele está pescando. Chega a ser cruel. É a marca da crueldade, da completa falta de sensibilidade com o problema do outro. Não é porque o governador da Bahia é de outro partido que ele deveria agir assim”, contrapõe a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), ao mencionar a conhecida animosidade política entre Bolsonaro e o governador Rui Costa (PT).
Nos bastidores de Brasília, a ausência do presidente da República na região tem chamado a atenção. Parlamentares aliados do governo estariam sugerindo uma passagem do ex-capitão pelo estado durante estes dias, quando a tragédia atingiu números ainda mais alarmantes. Segundo dados da Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec), há 31.405 desabrigados, 31.391 desalojados, 358 feridos e 20 mortos, sendo os dois últimos destes registrados nesta segunda (27). Ao todo, 116 municípios foram atingidos e 100 deles decretaram estado de emergência.
“Acho que vamos precisar de programas federais e recursos voltados a isso. A bancada baiana se dirige pra Brasília pra conversar com o presidente da Câmara pra ver se o orçamento pode ser promulgado logo, se há possibilidades de remanejamento de recursos das emendas de bancada, de relator, do que seja, pra atender as populações que estão em grave risco. É uma iniciativa suprapartidária”, afirma Alice Portugal.
Os deputados federais que representam o estado deverão se reunir presencialmente com Arthur Lira (PP-AL) pela manhã desta terça (28). A expectativa é de que o pepista, que é aliado de Bolsonaro, ajude a articular um socorro federal às pessoas afetadas pelas chuvas. A pressão pela edição de uma medida provisória, por exemplo, está no radar do grupo. A ida dos presidentes da República a locais que vivem situações de emergência e crise humanitária é praxe entre chefes de Estado. Em 2017, por exemplo, Michel Temer (MDB), foi a municípios atingidos por enchentes no Rio Grande do Sul.
O mesmo ocorreu com Dilma Roussef (PT) em 2016 e 2018, quando a petista visitou cidades atingidas por inundações em São Paulo e em terras gaúchas, respectivamente. Lula (PT) também seguiu esse protocolo em distintas ocasiões, como as das fortes chuvas que afetaram Santa Catarina, Pernambuco, Piauí, e Alagoas entre os os anos de 2008 e 2010.
“Quando houve as fortes chuvas no Extremo Sul da Bahia, precisamente em Itamaraju e Nova Alegria [no início deste mês], Bolsonaro, pela primeira vez, viajou ao município pra averiguar a situação. Lá ele – em um ato político, e não foi pra prestar solidariedade coisa nenhuma – não visitou nenhuma família ou local onde houvesse pessoas desabrigadas”, resgata o deputado Valmir Assunção (PT-BA), ao criticar a conduta do ex-capitão.
Desta vez, o presidente fez uma postagem sobre as atuais enchentes pelo Twitter. “As fortes chuvas voltaram ao sul da Bahia. Continuam na região todos os meios do governo na desobstrução de rodovias, distribuição de alimentos, resgate, antecipação do Fundo de Garantia, etc. Na região, estão os ministros da Cidadania, João Roma, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho”, disse, nesta segunda (27), sem fazer referência a um possível a ida a Bahia. Em outra publicação virtual, o presidente postou uma bandeira do Brasil em resposta a um comunicado do Ministério da Defesa sobre a locomoção de pacientes de uma unidade de saúde em Ilhéus (BA). Novamente ele não falou sobre alguma possível ida à Bahia.
“Essa é a característica do governo Bolsonaro: não está preocupado com as pessoas, com o cidadão, a cidadã. E nós que estamos na política temos que ter essa responsabilidade. Um momento como este não é de festa, não é momento de comemorar nada. É o momento de ser solidário. Isso Bolsonaro não é, então, não é surpresa pra mim ele viajar pra Santa Catarina”, reage Valmir Assunção. Em entrevista ao UOL, o líder da gestão Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), amenizou a gravidade da situação no estado e disse que “o governo federal já está presente” na região por ter enviado dois ministros e tropas das Forças Armadas à Bahia.