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Bradesco: um banco sem compromisso com o país

O movimento sindical que defende as condições de trabalho da categoria bancária enfrenta desafios cada vez maiores potencializados pelo prolongamento da pandemia, mas se deparou na virada do mês de outubro com uma face perversa da luta de classes: a quebra de compromisso por parte do banco Bradesco, que promove demissões em massa, por teleconferência e por telefone, no período imediato após o encerramento da campanha salarial.

“Não podemos deixar que neste momento de pandemia o Bradesco ou qualquer outro banco descumpra o acordo feito há alguns meses, desde o início da pandemia, de não demissão. Não há justificativa para o sistema financeiro demitir ou afastar pessoas do seu quadro, pessoas que estão contribuindo, fazendo o seu papel, mesmo que em home office. Não é admissível, até porque o sistema financeiro continua lucrando”, afirma Antonio Luiz Fermino, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários, Financiários e Empresas do Ramo Financeiro de Curitiba e região.

Bancos lucram na crise econômica e na pandemia

As instituições financeiras se mantiveram discretas no cenário de retrocessos econômicos no Brasil 2020, pois seus lucros bilionários, se não continuaram crescendo, pouco se alteraram pela recessão no país. O Bradesco, por exemplo, lucrou R$ 7,626 bilhões no 1º semestre de 2020, com crescimento de 3,2% no lucro comparado ao 1º trimestre do ano, ou seja, aumentou o lucro na pandemia.

A atuação do movimento sindical bancário, unificado e nacional, antecipando mesas de negociação com um setor que não perde nunca sob a perspectiva dos lucros, intercedeu para que o serviço essencial fosse mantido nas diversas realidades territoriais, conquistou o compromisso de manutenção dos empregos na pandemia, e promoveu a adequação de trabalhadores em grupo de risco e em coabitação com crianças e idosos para que exercessem suas atividades em teletrabalho. Os bancários não sofreram os impactos da MP 936, que transformada em lei, autorizou as empresas do país a promover cortes de salário entre 25% e 75%, ou ainda, suspensão de contratos de trabalho, com subsídios governamentais, medida que atingiu uma grande massa de trabalhadores formais no país, com impactos financeiros ainda pouco mensurados.

Essa articulação funcionou, em maior ou menor medida, até a data-base da categoria, em 1º de setembro, com as negociações sobre reajuste de verbas financeiras e manutenção de direitos para trabalhadores e posterior assinatura da Convenção Coletiva de Trabalho, um instrumento que garante melhores condições há mais de 20 anos para bancários e bancárias de todo o país.

Ocorre que o banco Bradesco atua, desde então, fomentando a prática antissiindical, proibindo os dirigentes do Sindicato de acessar os prédios nos locais de trabalho, e na quebra de compromisso, ao promover demissões em massa durante a pandemia.

“Nesse semestre de recorde de lucro, quatro dos seis meses foram na pandemia. É inadmissível que o Bradesco coloque famílias em risco. Cada trabalhador demitido é uma família que vai ficar desamparada. Fechar 500 agências, que é a projeção apontada por eles, é algo inadmissível neste momento. Os bancos estão deixando sua função de atendimento ao público para ficar somente com a rentabilidade de títulos públicos, fazendo como foco disso a demissão dos trabalhadores, a redução do seu quadro. É inadmissível”, contextualiza Fermino.

Com uma propaganda e pressão para venda de produtos de pensam o futuro e estimulam o imaginário das crianças a não ter medo do que precisam enfrentar pela frente, o Bradesco promove demissões sem justa causa por telefone e teleconferência, implantando uma reestruturação em nenhum momento dialogada com a representação sindical e deixando centenas de famílias engrossarem as filas do desemprego sistêmico no país sem qualquer lastro justificado no balanço financeiro.

“A situação é tão dramática para quem é demitido quanto para quem ainda está trabalhando. Essas pessoas dormem e acordam pensando se serão as próximas. Um banco que cobra de seus trabalhadores que atuem com ética e moral tem que cumprir com os acordos que assume. Ou cairá em descrédito com a população brasileira, mesmo tentando vender uma imagem de compromisso com o futuro do país”, lembra Cristiane Zacarias, secretária-geral do Sindicato e funcionária do Bradesco.

Somente na base do Sindicato de Curitiba e região, desde 01 de outubro, foram registrados 60 comunicados de demissão, mas as denúncias que chegam é de que seriam 150 ocorrências. Esse controle é subnotificado, pois desde a reforma trabalhista de 2017 a homologação da rescisão deixou de ser obrigatória nas entidades sindicais e a entidade conta com o contato dos demitidos para contabilizar os casos.

Organizado nacionalmente, o movimento sindical bancário atua diretamente junto ao banco para reverter e parar as demissões. “A Comissão de Empregados (COE) do Bradesco vem tentando negociar com o banco, mostrando que estas demissões na pandemia são cruéis. Tem trabalhadores do grupo de risco, com doenças graves, com pré-estabilidade de aposentadoria e outras especificidades, mas o banco está irredutível e diz que está fazendo ‘ajustes’. Não aceitamos essa situação. Haverá luta, mobilização e buscaremos todos os recursos possíveis para sensibilizar o banco”, explica Karla Huning, representante do Paraná na COE Bradesco.

Diante desse cenário, o Sindicato comunica à população que está atuando em diversas frentes para denunciar as arbitrariedades do banco Bradesco, ancoradas em desumanidade com seus trabalhadores e na falta de consciência coletiva a partir da situação de desemprego e miserabilidade que assola o país, e para tentar reverter essa situação. “O Sindicato não abrirá mão de lutar ao extremo contra as demissões. No judiciário, no ministério público e onde não couber a justiça, iremos buscar a ação sindical. A organização dos trabalhadores não vai deixar que isso aconteça de forma impune. Se fosse um segmento que tivesse com dificuldades, teria alguma justificativa, mas o sistema financeiro não está com dificuldades, muito pelo contrário. Lucra sempre e com a crise lucra muito mais”, afirma Fermino.

Essas diversas ações desenvolvidas pelo Sindicato incluem:

Para os trabalhadores demitidos: suporte jurídico para possível reintegração caso a caso, acolhimento emocional e orientação quanto às questões de saúde,  trabalhista e sobre direitos na rescisão; levantamento estatístico para caracterizar as demissões como coletivas e denunciar a situação ao Ministério Público do Trabalho; a realização de live informativa, que deverá ser realizada na próxima semana, para tirar dúvidas dos trabalhadores do Bradesco.

– Para o conjunto da sociedade: um ato nacional será realizado nesta próxima quinta-feira, 15 de outubro, para denunciar que o Bradesco, não tem palavra e promove demissões sem precisar financeiramente deste artifício, potencializando a situação de crise econômica do país.

– Para os clientes do banco: conscientização para que exijam do Bradesco que suas ações sejam condizentes com o papel de uma instituição financeira na sociedade, de proteção coletiva e indutor do desenvolvimento.

– Para a classe trabalhadora: dirigentes do Sindicato de Curitiba estão levando essas informações sobre a postura do Bradesco e o desalento a seus funcionários participando de entrevistas em rádios e sites de notícias para denunciar a falta de compromisso do banco com o futuro do país e com a situação imediata de manutenção dos empregos durante a pandemia.  

Apoie a luta dos trabalhadores do Bradesco contra as demissões!

Compartilhe nas suas redes sociais as informações sobre o Dia Nacional de Luta: Na Defesa do Emprego e Contra as Demissões”, que será realizado nesta quinta, dia 15 de outubro, para denunciar demissões no Bradesco, Itaú e Santander, inclusive de gestantes e outras estabilidades, fechando departamentos inteiros.

Se você é trabalhador do Bradesco e foi demitido, comunique o Sindicato.

Se você trabalha no Bradesco, envie seu depoimento de maneira anônima para relatar como é trabalhar num banco que vende ilusões e promove o desalento de centenas de famílias durante uma pandemia.

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