O segundo dia do 33º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (CNFBB), nesta sexta-feira, 10 de junho, foi marcado por dois debates fundamentais: igualdade de oportunidades e juventude.
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Segundo trabalho do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese), em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), com base no último Censo de Diversidade, apesar de as mulheres serem a maioria do quadro de trabalhadores no Banco do Brasil, a média de salário dos homens é maior e fica em cerca de R$ 10 mil, enquanto a das mulheres bancárias e negras fica em pouco menos de R$ 6 mil.
Mais estudos, menos oportunidades
“Nós, mulheres, estudamos mais, somos multitarefa e maioria nesta categoria, mesmo assim não estamos, proporcionalmente, representadas nos espaços de comando”, refletiu Neiva Ribeiro, secretária-geral do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo Osasco e Região e vice-presidente da UniAméricas. Ela participou do Encontro sobre Desigualdade de Gênero e Raça no Trabalho e Renda, nesta sexta-feira (10), último dia do 33º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil.
Neiva lembrou ainda do impacto da ascensão do bolsonarismo, ampliando os retrocessos tanto no ambiente de trabalho, quanto social. Por outro lado, apontou as entidades sindicais como detentoras dos espaços onde essa discussão mais avançou. “A questão que temos que levantar agora é como nos organizar mais e melhor. Como militantes, temos o papel de trazer mais colegas bancários na luta pela igualdade de oportunidades”, pontuou.
Assédio, racismo e xenofobia
A secretária de Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes, que coordenou a mesa, também destacou que as denúncias de assédio, racismo e até de xenofobia tem aumentado. “Não há dúvidas de que esse governo deu licença para pessoas preconceituosas não terem vergonha de mostrar a cara e falar o que pensam. Por isso, não podemos deixar de somar forças, sofrer junto, lutar junto, apoiar as vítimas”, ponderou.
Sandra Trajano, secretária-geral do Sindicato dos Bancários em Pernambuco, funcionária do BB e secretária de Finanças da Fetrafi/NE, ao falar da sua trajetória de conhecimento das desigualdades e a luta para equiparar os direitos de mulheres, negros e negras, deficientes e população LGBTQIA+ em todos os espaços da categoria, observou que esse conhecimento lhe foi dado pelo movimento sindical. “Evoluímos muito nesse aspecto de compreender o lugar pela igualdade, ainda que não tenhamos alcançado a plenitude de tratamento”, destacou.
Gênero e raça
A diretora do Sindicato dos Bancários da Paraíba Magali Pontes ressaltou a importância de trazer a temática racial e de gênero para dentro do BB, para avançar o quanto for possível nessas questões que vêm sendo negligenciadas desde o golpe de 2016. “O Banco do Brasil, no governo do PT, era signatário do programa de equidade de Gênero e Raça, algo que logo após a ascensão de Temer passou a ser esquecido e deixado pra trás”, disse.
Ela também reforçou que as mulheres são maioria no Banco do Brasil. “Somos um pouco mais de 51%, mas em compensação, isso não se reflete nos espaços de cargos de gerência e de comando na instituição. Isso é um retrato nítido da desigualdade de gênero. O percentual cai, ainda mais, quando se trata de mulheres negras.” Para Magali, dados apresentados pelas outras palestrantes chocam quando dão conta de que o BB, uma instituição secular, ainda apresente ações de violência sexual, de discriminação contra pessoas LGBTQIA+ e de desigualdade de gênero.
Falas de violência
Ana Cristina Rosa Garcia, ex-gerente executiva da área de gestão de pessoas do BB, lembrou que, na sua trajetória de ascensão no banco, enfrentou inúmeras falas de violência. “Quantas vezes tive que falar alto e, como resposta, obtive a reclamação de que eu estava nervosa. Mas o mesmo não era dito aos homens quando falavam alto e discutiam em suas posições de comando dentro do banco”, contou. “Encontro como esses, que estamos realizando, são, portanto, muito importantes porque o debate é complexo e o espaço ainda não está garantido para nós”, pontuou.
Desigualdade no trabalho
Juliana Cardoso, vereadora pelo Partido dos Trabalhadores de São Paulo, participou virtualmente da mesa que tratou de combate à desigualdade de gênero e raça no trabalho e renda. A vereadora, que é mulher de origem indígena, militante pelos direitos do povo e das mulheres das periferias urbanas, destacou prioritariamente em sua fala a necessidade de ocupar os espaços de poder no sistema político. “Vamos lembrar que, por 20 séculos da história da humanidade a mulher não ocupou posições políticas dentro do Parlamento. Hoje já vemos diferença, mesmo assim ainda temos muito que lutar” completou.
Capitalismo selvagem
A advogada, mestra em Direito Político e Econômico e bacharel em Direito pela Universidade Mackenzie e diretoria do Instituto Lula, Tamires Sampaio, enfatizou que a violência de gênero, classe e raça está enraizada na nossa cultura e normalizada nas relações, mostrando que, após análise, é possível entender que a discriminação é uma questão que está no centro da sociedade capitalista. “Quando a gente fala da naturalização da violência, ela também acontece em ambiente nossos, sindicais, populares. Temos que combater essas diversas formas de violência, para que, de fato parem de se repetir.”
Juventude
O último debate, que finalizou o 33º Congresso dos Funcionários do Banco do Brasil, debateu os desafios para jovens ter acesso ao trabalho e renda. Pensar na necessidade de política de emprego e renda para a juventude, em cenário tão difícil, em que tantas pessoas passam fome, como é o caso do Brasil, é pensar também que se deve falar sobre qualquer tipo de trabalho. É o que diz a vereadora do Psol, Paula Nunes, quando analisa que é equivocado falar que os jovens do Brasil não trabalham. “Pelo contrário, trabalham muito, desde muito cedo, mas em serviços extremamente precarizados”, disse.
Aplicativos
Para Paula, basta perceber quais são as pessoas que mais trabalham em aplicativos de alimentação. “Hoje, o destino da juventude brasileira é estar em cima de uma bicicleta, alugada de um banco privado – veja que não estou falando sequer de moto ou de bicicleta própria – por uma média de 12 horas, sem tempo de descanso e de alimentação. Essa é a realidade do nível de precarização de trabalho da juventude brasileira”. Para a vereadora, é um ato de extrema importância quando os sindicatos debatem todas as reformas que foram impostas e a precarização dos serviços públicos, pois são temas que refletem nas oportunidades que são criadas ou tiradas drasticamente da juventude. “A gente precisa ter um olhar pra essa juventude que não consegue acessar a universidade, não consegue sequer acessar o trabalho formal, vivendo da informalidade”, finalizou.
Atualização de sindicatos é urgente
No mundo todo, a taxa de desemprego na população jovem é maior, alcançando dois dígitos, considerando as demais faixas etárias. O Brasil tem a quarta maior taxa de desemprego no grupo de 16 a 24 anos, de 31%. “É preciso olhar os dados à luz do contexto político. Somente assim é possível desenvolver políticas públicas assertivas para os jovens”, ponderou Lucimara Malaquias, presidenta da UNI Américas Juventude.
Ela destacou que, no Brasil, dois grandes grupos de jovens se destacam: “O periférico, que se vê obrigado a trabalhar no Ifood, Uber, ocupações precarizadas. Esse é um grupo sem acesso à cultura, capacitação. E o outro grande grupo é o do altamente capacitado que, no ambiente bancário entra preparado, com salário acima do que ganha 80% da classe trabalhadora em todo o país e que traz com ele a cultura da meritocracia. Para ele, a PLR, por exemplo, é vista como mérito, sem com a luta do movimento sindical”, explicou Lucimara.
Ocorre que esse jovem que entra no mercado de trabalho mais preparado está sendo empurrado para a pejotização. O caso mais recente e emblemático dessa manipulação é do Santander, que está incentivando a contratação de trabalhadores fora da carteira de trabalho, chamando-os de “sócios”, com salários irrisórios em comparação ao lucro do banco. “O movimento sindical precisa de mudanças drásticas para conseguirmos se aproximar desses jovens que consideram o movimento sindical ultrapassado, porque não se sentem representados, porque eles compraram o discurso do banco de que não precisam do movimento sindical e de que eles podem ficar ricos”, prosseguiu Lucimara. “Não existem jovens na grande maioria das nossas direções sindicais”, criticou. “É urgente, portanto, essa atualização do movimento sindical para que seja um espaço de acolhimento. Precisamos parar com essa ideia de que sabemos tudo. Precisamos ouvir, ser um espaço de construção coletiva. Somente assim vamos conseguir alcançar os jovens bancários”, concluiu.
Valorização
Cristiana Paiva, professora, jovem agricultora familiar e secretária de Juventude da CUT Nacional, falou sobre a importância de os sindicatos valorizarem e garantirem espaços para os jovens que estão na luta. A secretária levou dados que dão conta de uma pequena participação dos jovens em processos sindicais, em direções e cargos que não sejam apenas o da secretaria de juventude. “Jamais o jovem é cogitado para assumir uma presidência, uma secretaria geral ou algo do tipo. Sempre há a narrativa de que não temos experiências, mesmo que sejamos capazes.”
Segundo Cristiana, tal fato causa um desestímulo e não é proporcional à quantidade de experiência enfrentada pelos jovens que estão nas atividades. “São poucos espaços ocupados por jovens, apesar de ser histórica a participação da juventude nos processos de mudança e na luta por direitos no Brasil”, pontuou.
Fonte: Contraf-CUT