Nesta quinta-feira, 23 de dezembro, o projeto encerra o ano com a ceia de Natal Marmitas da Terra, entregando duas mil marmitas, produzidas com alimentos da reforma agrária, na praça Tiradentes, centro de Curitiba, praças e comunidades da cidade e região metropolitana. A ação faz parte da campanha nacional “Natal Sem Fome” do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que acontece em todo o Brasil entre os dias 10 de dezembro e 6 de janeiro, com o lema “Cultivando solidariedade para alimentar o povo”.
A produção das marmitas geralmente acontece às quartas, mas por conta do Natal, a entrega das refeições acontece em dois dias. Na quarta, 22, foram preparadas e entregues duas mil marmitas na hora do almoço nas praças e comunidades, seguindo a programação normal do coletivo.
Nesta quinta, 23, outras 1.500 marmitas serão distribuídas na hora do almoço, em comunidades e ocupações urbanas. Às 18h, o coletivo preparará mais 500 refeições que serão entregues na praça Tiradentes simbolizando a partilha da ceia de Natal da classe trabalhadora.
Para Adriana Oliveira, integrante do MST e coordenadora do coletivo, é muito simbólico encerrar o ano com 100 mil marmitas entregues porque é o resultado de vários pontos que o movimento vê refletido dentro deste coletivo, que reúne trabalhadores de várias áreas, estudantes e pessoas em situação de vulnerabilidade social. “Somente em um projeto de vida é que a solidariedade pode ser mais forte que a pandemia do vírus e inclusive a da fome que vem aumentando no Brasil”, enfatiza.
Fotos: Leonardo Henrique / MST-PR
Ela explica que o trabalho começa no campo, “numa terra repartida, território da reforma agrária, e vai até a entrega das marmitas para outros trabalhadores, tomando todos os cuidados com a saúde de cada um, de quem trabalha comigo e de quem recebe o alimento”.
“Isso mostra que este projeto é tão potente porque vai contra a hegemonia do agronegócio. Nós temos um projeto de vida que produz respeitando todas as esferas de produção, na relação com a natureza e com as pessoas, enxergando quem recebe o alimento como pessoa e não como caridade”, afirma.
Hortas coletivas do Assentamento Contestado
O trabalho do coletivo Marmitas da Terra vai além do preparo e entrega de refeições, há mais de um ano todos os sábados o grupo de voluntários sai de Curitiba e vai para o Assentamento Contestado, Lapa, plantar e colher no espaço das hortas coletivas.
A produção de alimentos destas hortas é destinada para as 1.500 marmitas semanais e para as cestas de doações solidárias. Já foram oito toneladas de alimentos produzidos neste espaço.
Este ano o cardápio da ceia será arroz com palmito jussara e legumes, frango assado, batata com alecrim, beterraba, tomate cereja e salada. O palmito é uma doação das famílias do Acampamento José Lutzenberger, Antonina, uma comunidade com 20 anos de resistência e produção agroflorestal. Os outros legumes foram todos colhidos pelos voluntários esta semana nas hortas do Assentamento Contestado. Cada marmita vai acompanhada de água e uma fruta de sobremesa.
Nas hortas comunitárias do Assentamento Contestado (Lapa), cerca de 40 voluntários do coletivo Marmitas da Terra colheram 1,1 tonelada de batatas e 7 caixas cheias de abobrinha, que vão compor as marmitas doadas na campanha “Natal Sem Fome”. Fotos: Leonardo Henrique / MST-PR
Campanha “Natal Sem Fome” partilha alimentos em 30 cidades do Paraná
Serão cerca de 95 toneladas de alimentos frescos e industrializados além das 4 mil marmitas. A partilha acontece na capital e em cidades do interior como combate a fome, tão presente no lar de cerca de 20 milhões de brasileiros, que passam um dia ou mais sem ter o que comer, segundo a pesquisa feita pela da Rede Pessan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), divulgada no início deste ano, e resumem a gravidade da crise econômica e social que o Brasil atravessa.
Como forma de ajuda humanitária a quem sofre com a falta de comida na mesa, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realiza a campanha “Natal Sem Fome: Cultivando Solidariedade para Alimentar o Povo”. No Paraná terá ações em todas as regiões, em pelo menos 30 cidades. As primeiras doações começaram no dia 13 em São Miguel do Iguaçu, no oeste, e seguem até o dia 23 de dezembro.
A maior parte das doações planejadas partirão das próprias famílias Sem Terra, como parte da campanha de solidariedade que começou no início da pandemia da Covid-19. Ao todo, somente no Paraná, mais de 830 toneladas de alimentos foram partilhadas por famílias do MST de abril de 2020 até agora.
Boa parte da comida que chegará às famílias urbanas está sendo produzida em hortas coletivas e espaços de produção agroecológica de assentamentos e acampamentos do MST. Ao todo, 17 lavouras coletivas foram iniciadas para garantir a permanência das partilhas, desde maio de 2020.
Na terça-feira (21), a partilha aconteceu na Fazenda Rio Grande, a famílias do bairro Suzuki. Foram entregues 125 Cestas Esperança, alimentos da reforma agrária, que foram arrecadadas no mês de dezembro pela campanha da União Solidária e doações dos consumidores da Rede Produtos da Terra.
Nas cestas, cada família recebe alimentos frescos e itens industrializados, José Damasceno, assentado em Arapongas e integrante da direção estadual do MST-PR, explica a intenção de levar apoio à parcela da população que enfrenta os efeitos mais perversos da crise, como a falta de renda e de alimentos.
“Nós estamos fazendo a nossa parte e acreditamos que com a energia, a vontade, a coragem e a união de todas e todas é possível que a gente leve até as pessoas mais carentes um pouco daquele alimento que a gente, e além disso, levar o carinho, a solidariedade e muita energia para que essas pessoas continuem resistindo”, garante o militante.