A economista e técnica do Dieese na Contraf, Vivian Machado, apresentou aos bancários de Curitiba e região um panorama sobre o uso da tecnologia pelas instituições financeiras.
Qual o futuro do sistema financeiro? Apresentando as ondas de inovação tecnológica nos bancos, a economista técnica da subseção do Dieese, na Contraf, contribuiu com os debates da 13ª Conferência Regional dos Bancários de Curitiba e região, realizada no último sábado, 13 de abril.
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Para Vivian Machado, o futuro do sistema bancário sofre os impactos da tecnologia, que ela situou estar na 6ª onda no sistema financeiro, a partir do surgimento das fintechs, com tecnologia que vem de fora dos bancos. Ela apresentou dados demonstrando que o setor bancário lidera o investimento privado em tecnologia, que em 2023 atingiu o valor estimado de R$ 45 bilhões, crescimento de 30% nos investimentos em 12 meses.
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Inteligência Artificial nos Bancos
A agenda 2023 nos bancos foi centralizada na tecnologia da Inteligência Artificial (IA) aplicada em vários sistemas dos bancos, como a implantação de biometria, chatbot, inteligência cognitiva, buscando principalmente automação e eficácia na segurança cibernética. Conforme dados sistematizados pelo Dieese, 75% dos bancos investem em IA, especialmente em big data e analytics, para definir estratégias na gestão de clientes, além de 100% dos bancos investirem em segurança cibernética.
Nesse sentido, Vivian apresentou um panorama dos estágios da IA, que começou com a subordinação da IA ao trabalhador, avançando para seu aprendizado como “colega de equipe” e chegando na superação humana, quando supervisiona os trabalhos. Sobre a regulação da IA no mundo, foi demonstrada sua regulação na União Europeia, com a aprovação de uma legislação que entra em vigência em 2025 com o objetivo de proteger direitos humanos fundamentais.
No Brasil, quatro projetos de lei tramitam no Congresso sobre um Marco Regulatório para a IA e o principal deles é o PL 2338, que trata da responsabilização das redes sociais sobre conteúdos veiculados. Como exemplo do uso da IA pelos bancos e possíveis consequências, Vivian falou sobre a Bia, do Bradesco, que está sendo preparada para reconhecer assédio (não aos trabalhadores, ao que ela própria sofre com ataques virtuais) e para atender clientes. A IA incorpora repetições de preconceitos e machismos que são naturalizados na sociedade.
Digitalização bancária
Em outra abordagem sobre os avanços tecnológicos no sistema financeiro, Vivian trouxe dados sobre o uso da internet no Brasil, para avaliação se de fato as alterações são inclusivas ou excludentes da população: conforme dados de 2023, a digitalização exclui parte da população, pois 58% dos usuários acessa internet somente pelo celular e 31% das classes D e E não tiveram acesso à internet no ano passado.
Das transações bancárias, conforme dados da Pesquisa Tecnologia Bancária 2023, produzida pela Febraban, 77% dos usuários utilizam os canais digitais e 8% os canais físicos. Isso se reflete também na expansão dos bancos digitais. Das 1.450 fintechs que existiam no país no início de 2023, 30 eram bancos digitais.
Impactos no emprego
O emprego bancário segue sua série histórica em queda, houve redução de 13,7% no período entre 2012, ano que marca o início do investimento em digitalização pelos bancos e que a categoria era formada por 512,8 mil pessoas, e 2021, quando a categoria atingiu 442,6 mil bancários. De 2012 a 2021, a categoria bancária perdeu 70 mil postos de trabalho.
Os bancários ainda têm peso significativo no Ramo Financeiro, mas na década de 1990 eles representavam 95% dos trabalhadores do ramo e em 2021 representavam 43,6% desses trabalhadores, que chegam a 1.041 milhão no país, no vínculo formal. A maior redução no emprego formal foi de caixas de banco, com fechamento de 20,6 mil vagas, e o maior número de contratações pelo banco é na área de Tecnologia da Informação, com saldo positivo de 24,6 mil postos de trabalho nos bancos, 75% homens. Onde estão esses mais de 1 milhão de trabalhadores do ramo financeiro se somente 442,6 mil são bancários com vínculo formal?
Conforme o saldo de empregos do Caged 2023, foram abertos 10,7 mil postos de trabalho nas cooperativas, enquanto nos bancos foram reduzidos 6,3 mil postos. O ramo financeiro, excluindo a categoria bancária, teve saldo positivo de 16,5 mil contratações. Contudo, a categoria bancária tem remuneração média mais alta (R$ 10.060,00) que nos demais empregos do ramo financeiro (R$ 6.284,00), além de melhor jornada de trabalho e de maior tempo de permanência no emprego.
Vivian explicou também a diferença no movimento de dois bancos privados no investimento em TI: enquanto o Santander terceiriza a área, buscando a redução de custos, o Bradesco estaria visando o resultado, com a integração da área de TI nos seus quadros. Atualmente, 10% dos empregos nos bancos são na área de TI e 69% dos bancos querem aumentar a área.
Correspondentes bancários e uberização
Conforme dados do Banco Central de março de 2024, existem 12 vezes mais locais que prestam serviços bancários como correspondentes e existem em vigência 528 mil contratos, com 74 bancos e 29 financeiras.
Já a chamada uberização da categoria bancária aparece em dados sobre o crescimento do número de “assessores de investimento”, com o “bancário autônomo”. Esses trabalhadores estão reunidos em plataformas virtuais, como um uber, e em somente uma plataforma estão cadastrados cerca de 7,5 mil bancários, que são intermediados por essa plataforma em contratos de parceria com instituições financeiras.
Com a exigência de experiência na profissão, esses ex-bancários pagam uma taxa para serem inseridos na plataforma e recebem comissão da instituição financeira pela prestação de serviços, precarizada e sem direitos trabalhistas.
Sindicalização
Dados de 2022 registram que 15,6% dos trabalhadores do ramo financeiro eram sindicalizados, num universo de 1,6 milhão de trabalhadores. Esses trabalhadores estão divididos em 445 mil abrangidos pela CCT pelo vínculo formal de trabalho e outros 335 mil estão trabalhando sem carteira assinada.
Futuro do sistema financeiro
Para Vivian Machado, o futuro é o que ela chama de “tokenização de ativos”: o Banco Central tem agenda integrada de avanço do PIX com o lançamento da moeda digital DREX, além da internacionalização e do open finance.
Dados sobre o PIX também indicam o possível fim do uso do cartão de crédito com medidas que serão implantadas para a diversificação do uso da ferramenta, para além dos pagamentos instantâneos. A redução no uso do cartão de crédito para pagamentos já é realidade: compras com o cartão de crédito reduziram 5%, enquanto que aumentaram 22% no PIX. Em 2023 foram realizados R$ 42 bilhões em pagamentos com PIX, que também tem a característica da inclusão financeira, pois mais de 50% das transações eram de valores de até R$ 39,90 e o BC registrou 71,5 milhões de novos usuários do PIX, com 687 milhões de chaves registradas e o uso do PIX por 144 milhões de pessoas.
A economista do Dieese encerrou sua apresentação explicando sobre o funcionamento do DREX nas transações financeiras, sobre a intenção do BC de colocar em funcionamento um app que reúne todas as funcionalidades financeiras de um usuário, com uma carteira de dados.
Para o movimento sindical, a reflexão deve se direcionar para a fragmentação do emprego, em que surgem diferentes categorias de trabalhadores com diferentes formas de inserção no emprego e a consequente representação por diversos sindicatos, ou ainda a falta de representação, e tentar se antecipar aos impactos das mudanças tecnológicas na sociedade.
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Autor: Fotos: Joka Madruga/SEEB Curitiba | Fonte: Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e região