Nesta segunda-feira, 14 de março, completam-se quatro anos do assassinato de Marielle Franco, então vereadora da cidade do Rio de Janeiro, e de seu motorista, Anderson Gomes. Marielle, filiada ao Psol, e Anderson estavam em um carro, no bairro do Estácio, zona central do Rio, quando outro veículo se aproximou e uma série de disparos foi realizada, e os dois foram mortos com diversos tiros. Até agora, ninguém foi condenado pelo assassinato.
Há 1.461 dias sem respostas, a vereadora Mônica Benício (Psol-RJ), viúva de Marielle, reforça que a falta de um desfecho para a investigação acende um alerta. “São quatro anos de um crime de repercussão internacional, que foi escandalosamente uma das maiores violências que atravessou as nossas histórias nos últimos tempos e que abalou a nossa democracia. Em quatro anos sem resposta, acho que a gente deve começar a perguntar a quem interessa que o caso Marielle Franco não seja elucidado. Quais pessoas hoje não têm interesse em chegar nesta resposta, porque há uma força maior que impede ou há uma nítida incompetência de todos os poderes envolvidos diante das investigações?”, questiona Mônica Benício.
Às vésperas de se completar um ano do crime político, em março de 2019 o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz foram presos e acusados pelo Ministério Público do Rio como responsáveis pela execução dos crimes. Lessa teria atirado contra a vereadora e seu motorista, enquanto Élcio Queiroz dirigia o veículo Cobalt prata que os perseguiu. No início do ano passado, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) determinou a ida dos dois a júri popular, mas até hoje o julgamento segue sem data.
Em setembro de 2021, os advogados de Lessa apresentaram um agravo contra a decisão de levar o caso ao Tribunal do Júri. O recurso foi negado pelo TJ-RJ e encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na semana passada, familiares das vítimas e organizações da sociedade civil que formam o Comitê Justiça por Marielle e Anderson – criado em julho de 2021 para acompanhar as investigações – se reuniram com o ministro do STJ Rogério Schietti para pedir celeridade no julgamento do agravo e dos réus.
Segundo a advogada e mãe da vereadora, Marinete Silva, os familiares têm a esperança de que, diante de uma condenação mais elevada, os acusados revelem o nome ou os nomes dos autores intelectuais do crime. O ministro responsável por avaliar o agravo prometeu empenho. A diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, acrescenta que, sem o julgamento, “não há confirmação da Justiça de que eles (Lessa e Élcio) sejam os executores”.
Para Jurema, as sucessivas mudanças nas administrações e nos órgãos de investigações, com trocas de delegados e promotores ao longo do caso, também contribuíram para a falta de celeridade nas investigações. Há pouco mais de um mês, na Polícia Civil, o caso foi para as mãos de Alexandre Herdy, o quinto delegado a assumir o caso. Outros três grupos diferentes de promotores ficaram à frente da investigação.
Em julho de 2020, duas promotoras, Simone Sibilio e Letícia Emile, deixaram, de forma voluntária, a força-tarefa, criada meses antes para investigar o crime, denunciando tentativas de interferência externa. Ambas acompanhavam o caso desde 2018 e foram as responsáveis pela linha de investigações que chegou à participação de Lessa e Queiroz.
“Foram três governadores (do estado). Perdi a conta de quantos secretários de Segurança Pública (passaram pelo cargo no período). O Rio estava sob intervenção na segurança pública, liderada pelo atual ministro da Defesa (Walter Braga Netto) que, à época, com o secretário de Segurança Pública nomeado por ele, o general Richard Nunes, declararam que já estavam perto da solução. Isso no primeiro ano da investigação sob a gestão deles”, lembra a diretora-executiva. “Ao longo desse período, todo vimos vazamentos de todo tipo nos jornais, mas o que a gente não viu foi justiça. (…) Nos preocupa a descontinuidade, a demora, tudo o que não seja fazer justiça por Marielle e Anderson”, aponta.
Fonte: Contraf-CUT