A volta do Fórum Social Mundial (FMS) a Porto Alegre, no ano em que completa 10 anos, marca uma nova era na realização do evento, que tradicionalmente acontecia de forma unificada. Esse ano, ele passa acontecer de maneira descentralizada, em vários lugares do mundo e em épocas diferentes.
Começou com o I Fórum Social de Economia Solidária e a I Feira Mundial de Economia Solidária, em Santa Maria e Canoas (Grande Porto Alegre). Depois, o 6º Fórum Mundial de Juízes e também o Fórum Social Mundial da Serra Gaúcha. Em seguida, o Acampamento Intercontinental da Juventude 10 anos, em Novo Hamburgo. Fora do Brasil, aconteceu também o Fórum Social de Tóquio.
Ainda no primeiro mês de 2010, foram realizados: o Fórum Mundial de Teologia e Libertação, Direito e Justiça, em São Leopoldo; o 2° Fórum Social Local do Atlântico, em Kpomassé, Benin; o Fórum Social Mundial Madri, na Espanha; o Fórum Social Tcheco, em Praga, República Tcheca; o Fórum Social Temático de Salvador, na Bahia; a 5º Feira Livre de Stuttgart, na Alemanha; o Fórum Social Mundial El Salvador; e o Fórum Social Catalão, em Barcelona, na Espanha.
Ao longo do ano, teremos ainda o Fórum Social Detroit, no EUA, em julho; o Fórum Social Mundial das Américas, em agosto; e o Fórum Social Palestino, no Irã. Todos esses eventos, entre outros, estão sendo pensados com vista no XI Fórum Social Mundial, que acontecerá em 2011, em Dakar, Senegal, no continente africano e de forma unificada novamente. Trata-se de um país que enfrenta problemas com sua diversidade étnica e passa por um momento de instabilidade devido a disputa política pelo poder. Com os olhos focados no continente africano, o Fórum certamente vai centrar suas preocupações nos países pobres e seus eternos problemas de fome, saneamento básico, saúde, segregação racial, organização social e disputa de riquezas naturais e minerais.
Fórum Social Mundial 10 Anos Grande Porto Alegre
De 25 a 29 de janeiro, foram realizados o Fórum Social Mundial 10 Anos Grande Porto Alegre e o Seminário Internacional 10 Anos do Fórum Social Mundial. O evento contou com a presença de pensadores do quilate intelectual de David Harvey, Paul Singer, Marina Silva, Olívio Dutra, Boaventura Santos, Márcio Pochmann, entre tantos outros, e até mesmo do presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva. Distribuído em 7 cidades da região da grande Porto Alegre, reuniu mais de 35 mil participantes e 915 atividades.
Entre as principais atividades, destacaram-se o seminário “Mundo do Trabalho”, organizado pela OAB, e a reunião coletiva das centrais sindicais, com ato contra as práticas anti-sindicais. Com fala de representantes de todas as centrais, este último foi o marco preparatório da Conferência da Classe Trabalhadora, que acontece em junho e vai elaborar um programa conjunto para as eleições 2010. O objetivo é apresentar aos candidatos que concorrerão à presidência da república o que pensam e o que querem os trabalhadores brasileiros.
O pensador Paul Singer disse, durante sua exposição, que o Fórum não se esvaziou, apenas está capilarizando-se, pois está deixando de ser um evento analítico das conjunturas sociais e políticas e passando a ser propositivo, com atividades e encaminhamentos de diversas questões. Em tese, essa capilarização envolve muito mais pessoas que o processo original (centralizado). O pensador justificou tal afirmação reiterando que as etapas que acontecerão em 2010 envolverão centenas de milhares de pessoas.
Seguindo a mesma linha de Paul Singer, o presidente Lula, no encontro intitulado “Diálogos com o Presidente”, afirmou que o FSM extrapolou sua capacidade analítica e passou a ser um instrumento extremamente importante para conectar pessoas, causas e entidades pelo mundo inteiro. É através dele que muitas pessoas entram em contato e levam suas causas e suas lutas para outros lugares do mundo.
Complemento dizendo que o FSM, desde o seu início, tem um papel fundamental: despertar o sentimento de coletividade nas pessoas, fazendo com que os que lutam na África saibam e sejam solidários aos lutadores das causas sociais nos países Andinos, por exemplo; e que todos tenham a clareza que, irmanadas, suas causas ganham repercussão em todos os cantos do mundo. Esse é o verdadeiro espírito do Fórum: irmanar causas e sentimentos, conectar internacionalmente bandeiras de luta. Longe de ser o que era no início, apenas um conclave para se contrapor ao encontro dos países ricos, o FSM passou a ser um instrumento de participação popular, propositivo, e com uma visão revolucionária, por vezes utópica, de construir um outro mundo possível.
Desta forma, o evento se transformou em um instrumento periódico de discussões e organização de diversos setores sociais (haja vista que, em Porto Alegre, foram realizadas plenárias da juventude, dos movimentos sociais, dos estudantes, do movimento defensor do pré-sal, das centrais sindicais e de diversos partidos políticos que estavam presentes com suas delegações e que compõem a heterogeneidade da sociedade nacional e internacional). Esses momentos de reunião colocam em contato diversos militantes de causas diferentes, países diferentes. Participaram do FSM, por exemplo, militantes de mais de 19 países, principalmente da América Latina, Europa e África.
A CUT, o Paraná e os Bancários
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) foi uma das centrais organizadoras do FSM, marcando presença na mesa de abertura, na pessoa do presidente Arthur Henrique. Por seu perfil de entidade altruísta, a CUT tem como ideal fazer com que os movimentos estejam concatenados na direção de perspectiva socialista, uma perspectiva que compartilha com o Fórum.
O movimento sindical bancário também esteve presente nesse evento de envergadura internacional, com representantes de diversos sindicatos e federações, inclusive da Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, a Contraf-CUT. O Sindicato dos Bancários de Porto Alegre foi palco de um festival de cinema, além de sediar a discussão sobre o sistema financeiro internacional.
Já a delegação do Paraná reuniu mais de 20 pessoas de diversos sindicatos e participou inclusive do Acampamento Intercontinental da Juventude, em Novo Hamburgo.
Nós, do Sindicato dos Bancários de Curitiba e região, também estivemos presente com uma delegação composta por 4 dirigentes sindicais e 2 funcionários. Mantendo a tradição histórica de participação no FSM, buscamos assimilar as discussões apontadas pelos movimentos e tendências políticas desta edição. Com certeza, trouxemos muitas contribuições para a atuação política e sindical da entidade, fazendo com que mantenhamos em mente essa congregação universal que o Fórum propicia para aqueles que estão abertos a novas experiências políticas e culturais. É com este pensamento que deixo aqui esse relato, de um Fórum Social Mundial fomentador das mudanças e transformações necessárias; da busca por um outro mundo possível, mais fraterno, igualitário, justo e socialista. Até Dakar.