Conforme notícia divulgada nesta quinta-feira (10) pela Agência Reuters, o resultado mundial apresentado pelo HSBC nos primeiros nove meses de 2011 teve uma redução em 36% comparativamente ao mesmo período de 2010, passando de US$ 3,6 bilhões para US$ 3 bilhões. A matéria credita o fato ao aumento da contabilização para provisionamento de devedores duvidosos de US$ 700 milhões e os impactos negativos ocasionados pela crise financeira internacional, que atinge os maiores mercados globais.
A reportagem ainda dá conta da possibilidade de o banco deixar de atuar no Reino Unido em razão do governo inglês estar estudando a criação de novas taxas de exigência de capital próprio. Segundo o HSBC, caso esta regulamentação extra seja implementada os custos adicionais para o banco no país poderiam atingir até US$ 2,5 bilhões por ano.
Para o secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, Miguel Pereira, o anúncio do HSBC parece ser mais uma ameaça. "O pronunciamento do banco soa como uma tentativa de coibir qualquer tipo de regulamentação do sistema financeiro", avalia.
"A crise financeira internacional originou-se principalmente pela falta de uma regulamentação que impedisse os bancos de entrarem em uma jogatina sem fim, representada pelas apostas em aplicações de derivativos e outros ativos sem qualquer lastro. Quando tudo dá certo, apenas os bancos ganham. Quando há problemas, como agora, toda a sociedade é quem paga. É preciso que os países acordem e finalmente coloquem limites a essa especulação financeira que assistimos", critica o dirigente sindical.
Miguel defende que haja um marco regulatório do sistema financeiro para todos os países. "O governo inglês tardiamente pensa em tomar este tipo de medida que, aliás, o Brasil já adota. É preciso que o mundo inteiro tenha, para algumas questões, o mesmo marco porque senão os países estão expostos a chantagens, como faz agora o HSBC. O banco já vinha tratando da transferência de sua sede novamente para Hong Kong mesmo antes do anúncio das medidas de agora", completa.
O que realmente preocupa, de acordo com ele, são as declarações dadas por executivos do banco inglês à reportagem da Reuters, no que se refere a três pontos. O primeiro diz respeito ao anúncio da concentração cada vez maior de sua atuação nos segmentos corporativos, se retirando do varejo. O segundo, a saída do banco de diversos países. O terceiro ponto é a busca de melhorarias dos índices de eficiência de custos, com uma redução de US$ 3,5 bilhões nas despesas.
"Estamos falando basicamente em redução de pessoal, com a divulgação de que os cortes poderão atingir 30 mil funcionários, sendo que 5 mil já foram desligados", resume o dirigente sindical.
Impactos negativos
De acordo com a matéria da Reuters, o problema do subprime hipotecário americano e o aumento dos provisionamentos para devedores duvidosos têm impactado de forma negativa os resultados do banco.
"Com relação aos provisionamentos, temos que ficar atentos, uma vez que o HSBC sempre teve uma postura bastante conservadora, ou seja, seus registros em PDD sempre foram além do necessário e isso acaba reduzindo os lucros, o que no Brasil particularmente tem impacto direto no pagamento da PLR e do PPR", alerta o diretor da Contraf-CUT.
"Uma série de bancos brasileiros está sendo investigada pela Receita Federal por adotarem esse expediente, que reduz lucros e consequentemente gera uma menor arrecadação de impostos", afirma.
"Outro problema relacionado à questão diz respeito à distribuição de dividendos aos acionistas que também é reduzido", destacaa o dirigente da Contraf-CUT.
Ação irresponsável
"Um sistema financeiro saudável é o ideal para a manutenção do desenvolvimento sustentável. Com isso há concordância. Mas os bancos, em todo mundo, cada vez mais se recusam a cumprir seu papel de intermediários financeiros, e aplicam todos os recursos disponíveis, que na verdade pertencem aos seus correntistas e aplicadores, em operações que rentabilizam as empresas e garantem bônus bilionários a seus executivos, mesmo que isso seja de forma irresponsável e não sustentável ao longo dos tempos", avalia Miguel.
No Brasil
O Brasil, como vem anunciando o HSBC, é um dos países em que a empresa irá continuar apostando e investindo sendo, entre os emergentes, um dos mais importantes.
O lucro líquido da empresa, no primeiro semestre de 2011, foi de R$ 611,9 milhões. O valor é 44,25% superior ao registrado em igual período de 2010, o que colocou o Brasil na quarta posição dos países que mais contribuíram com lucro total, que chegou a U$ 11,5 bilhões.
O número de empregos também é positivo, apresentando um saldo de 605, entre admissões e desligamentos neste ano. "Obviamente que as presentes crises financeira e econômica pelas quais passam as maiores economias globais estão apresentando novos cenários e desafios cotidianos e as incertezas na conjuntura global é que estão ditando o teor das medidas. Temos de ficar alertas", completa Miguel.