(São Paulo) A ousadia de criminosos e a falta de um sistema adequado de segurança estão provocando mortes entre bancários e clientes de bancos. Em apenas duas semanas, ocorreram registros com morte em Curitiba, Salvador e Limeira (interior de SP).
Mesmo com os sucessivos recordes nos lucros – o resultado em 2003 dos 11 maiores bancos atingiu a marca dos R$ 12,9 bilhões – as instituições financeiras não investem o necessário em segurança, fazendo com que bancários, clientes e usuários se tornem reféns da violência que atinge o sistema financeiro.
Recentemente, a Polícia Federal abriu processos contra 15 bancos por conta de irregularidades no sistema de segurança. A informação foi dada na última reunião da Comissão Consultiva Para Assuntos de Segurança Privada, da qual a CNB/CUT faz parte, em 21 de janeiro, em Brasília.
Dentre as irregularidades constatadas pela PF estão descumprimentos da lei 7102/83, a qual dispõe sobre sistemas de segurança das instituições financeiras. Principalmente do Art. 2º que torna obrigatória a disponibilização de dois vigilantes por unidade e instalação de alarmes ligados a uma central ou delegacia, além de um terceiro mecanismo a escolher entre equipamento eletro-eletrônico de filmagem ou artefatos de retardo ou cabine blindada.
A avaliação preliminar da CNB/CUT sobre os processos, uma vez que eles ainda não foram julgados, é de que a PF está atuando com maior rigor na apuração dos casos. “Isso demonstra que as denúncias dos sindicatos e da sociedade, bem como as intervenções da CNB têm contribuído para o aperfeiçoamento do trabalho da polícia federal, o que é um importante passo”, destaca um dos representantes dos bancários da Comissão Consultiva Para Assuntos de Segurança Privada, Gutemberg de Souza Oliveira.
Além de maior rigor na apuração e aplicação das penalidades, a CNB defende mudanças na legislação capazes de forçar os bancos a darem maior atenção à questão da segurança. “Atualmente a lei 7102/83 prevê apenas uma penalidade, intervenção ou aplicação de multa. Defendemos a aplicação dos dois dispositivos, bem como a elevação dos valores das multas. Hoje, a multa máxima é de 20 mil Ufirs, o que para os bancos não é nada. Para se ter idéia, eles preferem descumprir a lei e ficar sujeito a pagar esse valor do que investir mais em segurança. Os bancos alegam que investem no setor anualmente R$ 1 bilhão. Agora, como se explicam tantas falhas no sistema”, questiona Gutemberg.
A diretora do Sindicato dos Bancários de Limeira, Fátima Celin, também destaca a necessidade de treinamentos dos funcionários e maior respeito ao ser humano. “Em alguns casos, os bancos estão demitindo os bancários abordados. Esse tipo de atitude só contribui para ampliar o pânico na hora da abordagem pelos bandidos. Ao medo do assalto soma-se o medo da demissão”, afirma a dirigente ao comentar a tentativa de assalto seguida de morte, nesta manhã, em sua base.
Aprofundar o debate – A CNB, preocupada com a situação, quer aprofundar o debate com as entidades sindicais. Deste modo, está convocando um Seminário Nacional sobre Segurança Bancária, para os próximos dias 18 e 19 de fevereiro, em Curitiba. O objetivo é denunciar às autoridades competentes e à sociedade o descaso dos bancos com a vida de bancários e clientes, bem como organizar a categoria, por meio dos sindicatos, a elaborarem dados capazes de subsidiar políticas de combate à insegurança bancária.
Para o evento, a confederação irá convidar todos os atores sociais envolvidos com o tema. Além do seminário, a CNB pretende elaborar um dossiê a ser encaminhado ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Para subsidiar o documento, os sindicatos devem informar o número de assaltos ocorridos em 2003 nos principais bancos (BB, CEF, Bradesco, Itaú, Unibanco, HSBC, ABN Real e Santander), bem como enviar para a confederação matérias publicadas na grande imprensa com relatos sobre assaltos a bancos e lotéricas, a funcionários transportando numerários, além de seqüestros de bancários e familiares.
A CNB solicita aos sindicatos que enviem no mínimo um dirigente para o evento e que informem pelo e-mail: cnbcut@cnbcut.com.br o nome do diretor responsável pelo tema.
Jornalista: Lucimar Cruz Beraldo – FETEC/CUT-SP