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Lula, o Che Guevara brasileiro

Só o título deste artigo bastaria para descrever o que penso sobre a determinação do nosso agora ex-presidente Lula em continuar combatendo a pobreza e a fome no mundo. Pois, foi assim que Ernesto Guevara de La Serna deu continuidade a sua luta pela transformação social no Congo, país do continente africano, e depois nos países da América Latina. Logo após ter deixado o consolidado governo de Fidel Castro e a bem sucedida experiência de construção de democracia popular na pequena ilha do pacífico, chamada Cuba, ele alçou outros vôos buscando fazer transformações sociais e revoluções na América Latina e na África.

Podemos dizer que Lula, assim como Che Guevara, construiu por outros caminhos, que não o da luta armada, e também teve seu legado construído sobre uma grande esperança de que os trabalhadores e os mais necessitados tivessem direitos à igualdade social e à cidadania. Por isso Lula insistiu, lutou, convenceu lideres sindicais populares. Juntos ganharam as eleições num importante sindicato de metalúrgicos que deu base para que construísse a ideia de que os trabalhadores organizados precisam disputar o poder.

Organizaram uma Central Sindical, um partido que se tornou o maior partido político de esquerda da América Latina. Lula foi alçado à liderança máxima desse partido, foi candidato a governador de São Paulo, em 1982, candidato a deputado federal constituinte mais votado em 1986, candidato a presidente da República, em 1989. Só não ganhou as eleições em função das manobras políticas por parte das elites, que estruturalmente dominam o país há séculos. Resolveu que para chegar ao poder o seu partido tinha que se adequar às regras eleitorais, abandonar o discurso revolucionário do socialismo e partir para o pragmatismo eleitoral. Mudou programas e estatutos. Saiu do avançado 13 pontos da Frente Brasil Popular, em 1989, para a Carta aos Brasileiros, em 2002, quando finalmente conseguiu a aprovação popular para o projeto do Partido dos Trabalhadores.

Em função dos desmandos, da corrupção e do esgotamento de um modelo de gestão política, conseguiu chegar à presidência com um alto índice de apoio popular. Construiu o maior programa de combate à fome do mundo, o Fome Zero. Com uma gestão austera e descentralizada em termos geográficos, mudou o eixo de desenvolvimento do sudeste para todas as regiões do Brasil, investiu massiçamente no nordeste, aproveitou o seu potencial turismo e de pesca. Criou uma secretaria com status de ministério, o Ministério da Pesca.

Criou o maior programa de desenvolvimento, chamado PAC, que só pode ser comparado, e ainda com reservadas proporções, ao período do nacional desenvolvimentista dos anos 1950. Pagou a Divida Externa e passou a ser credor de diversos países do mundo. Também gerou inclusão de renda e cidadania com o programa Bolsa Família, que tirou mais de 30 milhões de pessoas da linha da pobreza extrema.

Um outro passo fundamental dado pelo Governo Lula foi sua diversificação de mercados: buscou alianças políticas e comerciais com países periféricos e em desenvolvimento; ampliou negócios com a África, com a Ásia e o Oriente Médio, o que possibilitou que os reflexos da crise mundial não fossem sentidos como pelos países que desenvolvem relações comerciais apenas com países da Europa e com os Estados Unidos; criou um nova agremiação de países em desenvolvimento, denominado G-20; e passou a ser uma referência inclusive para o G-7, como um principal interlocutor entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Tornou-se ainda um líder político reconhecido mundialmente, chamado para mediar conflitos internacionais, como o do Haiti, onde estão as forças de paz da ONU, capitaneadas pelo Brasil. Também teve papel de destaque ao fazer uma proposta que foi aceita pelo chanceler do Irã, sobre enriquecimento de Urânio para fins pacíficos. Teve papel de destaque na consolidação do Mercosul e no combate à criação da Área de Livre Comércio, a Alca, que os Estados Unidos queriam estabelecer para serem os coordenadores dos mercados comerciais de todas Américas, engessando a possibilidade de autonomia comercial dos países em desenvolvimento da América Latina e do Caribe.

Em todas as áreas Lula trafegou muito bem, com desenvoltura, como na Cultura, nos Esportes e na Educação. Criou o Prouni, que adquire vagas das universidades particulares para alunos do sistema público; criou mais de 230 escolas profissionalizantes, voltando a dar uma condição mais estrutural fora da educação formal; criou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). que vem  substituindo a injustiça dos vestibulares em suas provas anuais.

Dentre as muitas iniciativas, as mais importantes de destacar foram os dois grandes feitos do Governo Lula na área dos esportes e do desenvolvimento: ganhar as disputas para trazer para o Brasil a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Do ponto de vista do desenvolvimento estrutural e social, nos lugares onde essas competições irão ocorrer, serão grandiosos os volumes de investimento e também o legado que será deixado por essas competições.

Lula terminou seus oito anos de governo com uma grata surpresa àqueles que resistiam à idéia de um operário presidente: além deixar a presidência com uma aprovação recorde, conseguiu com relativa facilidade eleger sua sucessora, a primeira mulher presidente do Brasil.

E agora, quais são os próximos passos de Lula? Ele, assim como Guevara, diz que o trabalho não terminou, vai agora se dedicar a outras causas, como o combate a fome na América Latina, na África e no mundo. Diz que não esta pronto para se aposentar. E nem poderia, pois o grau de liderança que o presidente Lula alcançou não pode ser desperdiçado, tem que ser aproveitado em outras frentes. Assim como um Guevara moderno, claro que em condições totalmente diferentes, ele irá atuar em outras esferas de organização mundiais. E os problemas são muitos, Lula terá muito trabalho pela frente. Os problemas mundiais são grandiosos e somente com lideres grandiosos poderemos enfrentá-los.

E por que afirmamos que Lula é um Guevara moderno? Por diversos motivos, mas os mais importantes deles é que o papel de Guevara foi historicamente reconhecido, a imagem de Guevara hoje só é menos reproduzida no mundo do que a imagem de Jesus Cristo. Foi um revolucionário que teve seu sentimento de indignação e justiça assimilado por muitos líderes que não aceitam tantas diferenças entre seres iguais. Os mesmos sentimentos que sempre moveram Lula, que os carregou antes, durante e depois de ter sido o maior e o mais popular presidente da história brasileira. Sai com o sentimento que de não vai parar por aí, que precisa seguir em frente, continuar combatendo os maiores males que assolam diversas nações e continentes, que são a pobreza e a fome.

E, somente quem tem em sua trajetória verdadeiras experiências de ter passado fome e as agruras que a pobreza traz, é que tem mais sensibilidade de compreender que esse mal precisa ser erradicado do mundo; e que existem plenas condições para que isso aconteça. Basta a conscientização de líderes, governantes e povos em um esforço conjunto para que isso aconteça de fato.

Não é o Lula que esta se autodenominando assim, o Guevara moderno, mas as condicionantes que nos levam a que fazer essa comparação. Pois, o espírito altruísta do ex-presidente se confunde com o do grande revolucionário argentino; e nos fazem afirmar, com as devidas proporções, que estamos falando de um revolucionário ou, para quem quiser, um visionário, que tem entre suas metas o combate àem entre suas metas o combate a fome e à pobreza no mundo. A busca por um mundo mais igualitário, mais justo e fraterno. E quando o mundo ganha essas características, de ser mais justo e mais fraterno, ele passa a ser mais socialista, mesmo que não se queria admitir esse rótulo. Mas é o que acontece. Pois, esse era o pensamento de Che Guevara: que todas as injustiças e desigualdades fossem combatidas, e o combate a elas, era para ele a maior virtude de um revolucionário. Por isso, podemos fazer a comparação entre esses dois líderes e falar que Lula é o Che Guevara moderno!

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