Na segunda rodada de negociação ocorrida nesta quarta-feira (12) com a Contraf-CUT, federações e sindicatos, em Belo Horizonte, o Banco Mercantil do Brasil (BMB) se negou a conceder qualquer pagamento a título de participação nos resultados (abono, prêmio ou bônus) aos seus funcionários, alegando que o banco não têm condições financeiras.
A reivindicação havia sido encaminhada pelas entidades sindicais logo após o fechamento da Campanha Nacional dos Bancários 2014, uma vez que o banco mineiro apresentou prejuízo de R$ 93 milhões no primeiro semestre de 2014, o que o desobriga a pagar a antecipação da PLR.
Discriminação
No entanto, mesmo tendo registrado prejuízo, o BMB confirmou que irá pagar neste mês de novembro os valores do programa próprio que mantém para a área de negócios do banco.
"Essa negativa de pagar qualquer valor ao conjunto dos funcionários soa como provocação", afirma Miguel Pereira, secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT. "Não se trata de dizer que é injusto pagar o que havia sido anunciado anteriormente aos gerentes. O que é injusto é pagar somente aos gerentes", salienta.
"Onde fica o argumento de que somos uma equipe, todos têm de se envolver para o batimento das metas, etc. Afinal, mesmo com o prejuízo pós provisionamentos, todos se envolveram para os resultados. Pior: pagar prêmios com prejuízo registrado para apenas um pequeno grupo, só prejudica o que buscávamos evitar, que é a piora do ambiente interno de trabalho, com a divisão entre os empregados e a desmotivação dos mesmos", protesta Miguel.
Alguns gerentes se manifestaram inclusive constrangidos diante da falta de um pagamento aos demais funcionários.
Na negociação, os dirigentes sindicais esclareceram que a proposta apresentada ao BMB nos moldes da conquistada junto ao HSBC – que também não apresentou lucro no primeiro semestre deste ano, mas negociou e vai pagar R$ 3 mil a todos os seus funcionários – era apenas uma referência e que os sindicatos estavam abertos a construir uma proposta que dialogasse com as condições específicas do BMB.
"Mesmo assim o banco negou qualquer pagamento, como uma forma de valorizar e reconhecer os esforços dos funcionários, mesmo com o resultado contábil apurado no balanço", lamenta Miguel.
As entidades sindicais vão analisar a possibilidade de denunciar ao Ministério Público do Trabalho (MPT) esse tipo de prática discriminatória no banco.
Aumento da PDD não se justifica e reduz o lucro
Conforme análise dos últimos balanços do BMB, feita da Subseção do Dieese na Contraf-CUT, o que chama a atenção é uma evolução muito expressiva das provisões para devedores duvidosos (PDD). Em 2012 foi contabilizado o valor de R$ 471,45 milhões. Em 2013, o montante pulou para R$ 664,32 milhões. Somente no primeiro semestre de 2014 o banco lançou R$ 409,22 milhões.
As entidades sindicais indagaram o banco sobre esse comportamento porque a PDD é uma conta de despesa e reduz o lucro líquido das empresas. "Estranhamos porque a carteira de crédito do banco vem se mantendo estável, em torno de R$ 9 bilhões, em queda, o que não ensejaria o aumento dessas provisões. O nível de inadimplência no sistema financeiro também se encontra muito baixo", salienta Miguel.
O banco apresentou algumas justificativas para essa contabilização, inclusive a inadimplência em sua carteira de pessoa jurídica.
"Vamos estudar a possibilidade de recorrer ao Banco Central para buscar maior detalhamento desses registros, uma vez que é o BC que regulamenta a questão da PDD nos bancos, classificando os créditos em atraso, definindo entre zero a 100 o nível de constituição de garantias de acordo com o período de vencimento da operação financeira, definindo os valores mínimos para a constituição das reservas", aponta o diretor da Contraf-CUT.
O BMB informou que nesta sexta-feira (14) será divulgado o balanço do terceiro trimestre de 2014.