No campo das semelhanças históricas entre o golpe de estado civil e militar de abril de 1964 e o golpe institucional de agosto de 2016. Onde o primeiro tirou da presidência o trabalhista João Goulart e colocou em seu lugar o militar Humberto Alencar de Castelo Branco, primeiro de cinco presidentes militares e o segundo, o golpe institucional de estado de 2016 tirou da presidência Dilma Rousseff e colocou em seu lugar o ilegítimo Michel Temer.
Precisamos entender algumas coisas, para poder traçar esse paralelo de semelhanças dos dois golpes. É fundamental, por exemplo, saber a quem de fato interessa um processo de ruptura política institucional e quais são de fato suas motivações de todas as ordens, políticas, econômicas e sociais. E para podermos fazer isso é fundamental saber avaliarmos todas variáveis sobre o golpe civil e militar de abril 1964.
Esta disponível no Youtube* um interessante documentário chamado “Cidadão Boilesen” que versa sobre a trajetória de Henning Albert Boilesen, o homem que articulava os patrocinadores e mantenedores do golpe civil e militar e as torturas práticas naquele período em nome do combate ao “perigo Comunista” por empresários da época. O que era a mais descabida balela, pois os empresários não tinham medo dos comunistas, tinham medo de perder a hegemonia de mercado econômico e sua condição de elite pelas mudanças que eram anunciadas pelas reformas de Base de João Goulart. A hegemonia econômica era o que justificava todo aquele terror social, que vitimou milhares de pessoas. E compreender esse cenário é necessário uma pequena revisitada na história recente do mundo pós 2ª guerra mundial, ou seja, onde o mundo foi divido em três áreas de influência geopolítica e econômica. Isso aconteceu nas famosas e históricas Conferências de Yalta e a na Conferência de Potsdam onde participavam pelos Estados Unidos da América, Franklin Delano Roosevelt; pela União das Republicas Socialistas Soviética, Josef Stálin e pela Inglaterra (Reino Unido) por Winston Churchill. Traduzindo, três grandes blocos econômicos que geograficamente distribuídos passaram a ter influência conhecida nos dias de hoje como blocos comunistas e capitalista, divididos assim: Estados Unidos ficou com a hegemonia sobre a América Latina, América do Sul, Caribe e Canadá. A Inglaterra (UK) com hegemonia sobre Oriente médio, África e Parte da Oceania e a União Soviética com hegemonia sobre todo o Leste Europeu.
Voltando ao filme documentário sobre Boilesen, ele consegue não ser chato e enfadonho, como geralmente são os documentários. Pois seu diferencial esta em ter feito com um roteiro original com uma trilha sonora dinâmica que se junta a uma história consistente e bem embasada historicamente, nos dando a dimensão de quem foi Boilesen, o articulador e mantenedor entre os empresários que financiariam o do Golpe.
Quando atravessamos o processo de arquitetura o golpe institucional que se consolidou no Brasil em 31 de agosto em 2016, uma das principais perguntas era: “A Quem interessa a queda do Governo Dilma Rousseff?”, “Quem financiará esse golpe institucional no Brasil?”, “Por que acontece o golpe, já que empresariado lucrava, banqueiros ganhavam como nunca ganharam antes, os grandes empresários de diversos setores com politicas de incentivo fiscais e desonerações também estavam em épocas de bonança”,
E na outra ponta havia um se construído um leque de direitos sociais e civis para a maioria da população, formada essencialmente pela classe trabalhadora. Enfim, a pergunta era: quem era o Boilesen do golpe institucional de 2016? Não demorou muito apareceu à figura simbólica de quem estava por trás do financiamento do golpe institucional que foi aplicado no Brasil e que tirou da presidência da república uma mulher honesta, honrada e o mais importante, democraticamente eleita. E muito mais do que tirá-las do poder voltou todos seus tentáculos em ao desmonte do patrimônio público brasileiro, sobre nossas reservas naturais e minerais, sobre a retirada de direitos e o congelamento dos investimentos no setor público por duas décadas.
Nas campanhas pelo impeachment da presidenta Dilma, observamos que os chamados vinham da grande mídia tradicional que destacavam grande parte da sua programação para cobrir e forma a subliminarmente incentivar os cidadãos a participarem dos atos pelo Impeachment. E davam horários, locais e símbolos para que as pessoas se concentrassem. Na maior cidade do Brasil o local foi à veia pulsante da economia brasileira, a Avenida Paulista, com epicentro das mobilizações em frente da Federação da Indústria do Estado de São Paulo, onde estava o Boilesen de 2016, ou seja, símbolo maior das manifestações o “Pato Gigante” da FIESP.
Depois de alguns meses já conseguimos visualizar os setores que tinham interesse direto no golpe institucional e qual foi seu símbolo. Basta olharmos o leque de medidas conservadoras que estão sendo tomadas, juntamente com a retirada de direitos que foram historicamente conquistados pela classe trabalhadora na Câmara Federal e no Senado da República. Também somado ao foco seletivo de denuncias na mídia de apenas um partido e sua liderança maior, com o claro objetivo de deixa-lo de fora do processo eleitoral de 2018.
Reorganizar o estado brasileiro através do seu desmonte, enxugando-o e oferecendo-o as privatizações, as concessões ao setor privado. Isso aliado à retirada de direitos históricos dos trabalhadores e da reformulação do mercado de trabalho, com emendas à constituição que acabam com o serviço público, seja através do congelamento dos investimentos nas principais áreas sociais, seja pela não convocação dos aprovados em concursos, dando vez aos trabalhadores terceirados. Pois como vimos em paralelo o governo ilegítimo tenta no Congresso Nacional e mesmo através de pressão do STF aprovar a terceirização da atividade fim em diversas categorias de trabalhadores.Tudo isso costurado com uma campanha de ódio desenvolvida na mente dos telespectadores e leitores da mídia tradicional, para que não houvesse na sociedade condições de se estabelecer diálogos, enraizando uma cultura de essência fascista, xenófoba, homofóbica e transfóbica que exala o ódio ao diferente, à intolerância e não aceita argumentos racionais, mas ao contrário condenam de forma veemente as pessoas pelo que falam, por como se portam pelo que vestem ou demonstram. Não concordam e não ouvem as opiniões contraditórias as suas convicções. Como vimos esses dias, o que por si só seria cômico, não fosse trágico, onde uma mulher totalmente enraivecida, alienada e cega pelo seu ódio chegar ao cumulo de dizer que a sol nascente representado pela esfera vermelha na bandeira do Japão era representação da ideologia comunista.
Através dessas variáveis é que vemos que o governo ilegítimo de temer pagando com o chicote no lombo da classe trabalhadora a fatura do golpe institucional aos avarentos do capital. Não os empresários pequenos e de porte médio, mais aos grandes empresários industriais do país, aos poucos empresários que concentram a comunicação do país e também aos grupos internacionais de olhos nas fortunas do pré-sal e do petróleo brasileiro da nossa Petrobrás. Também aos pequenos grupos de banqueiros, empresários da comunicação e grandes empresários urbanos e rurais do Brasil, que foram financiadores e são mantenedores do golpe assumindo a forma simbólica do “Cidadão Pato Boilesen” da FIESP e das elites empresariais, que agora vão cobrar na integra E o pagamento será através da retirada de direitos, das terceirizações, do desmonte da saúde, dos serviços públicos e do nosso patrimônio social e cultural com o congelamento dos investimentos públicos em setores essenciais da sociedade, como a proposta de mudanças no ensino médio e na reforma da previdência social. Com quebra de direitos e a implementação das terceirizações, como saúde e educação, como a reorganização do ensino médio e a reforma da previdência para que as futuras gerações sejam dóceis e amedrontadas trabalhadoras e trabalhadores, com educação limitada ao aperto botões, ou a controlar simples programas de computadores e aplicativos.
Nesses poucos meses de governo ilegítimo de Michel Temer, vimos sua voracidade em devolver a contrapartida a esses grupos econômicos nacionais internacionais, ou seja: O histórico “Cidadão Boilesen” dos dias atuais é o “Pato” da FIESP que receberá do governo ilegítimo de Temer tudo o que gastou com a arquitetura e a construção social desse golpe institucional de 31 de agosto de 2016.
*“E por fim fica a sugestão para que vejam o documentário: “Cidadão Boilesen”: no youtube: https://www.youtube.com/watch? v=yGxIA90xXeY