Na última sexta-feira, dia 30 de julho, chegou ao Sindicato dos Bancários de Curitiba e região uma reclamação sobre a situação em que se encontrava a agência do Banco do Brasil da Avenida Brasília, no bairro Xaxim. Fomos até lá e constatamos ser real o quadro descrito: cheiro insuportável de cola de carpete, e a agência, obviamente, cheia de gente.
Já na agência, conversamos com o gestor, com alguns funcionários e com dois enviados do BB, um do SESMT e outro da Engenharia. Como de praxe, uma vez que não haveria condições de trabalho, os representantes do Sindicato optaram por fechar a agência, ainda que com oposição e certa resistência dos representantes do banco. O próprio livro de instruções do BB (LIC) determina, em consonância com a legislação, que a aplicação de materiais que sejam prejudiciais à saúde ou que tenham potencial inflamável não seja feita em expediente, com a presença de pessoas que não os profissionais especializados, devidamente paramentados e com equipamento de segurança.
Não sejamos ingênuos que burlar a lei, no caso dos equipamentos obrigatórios nas “prestadoras de serviço”, é uma constante. No caso do BB, em dois anos, trata-se do quarto caso, o que reforçou o compromisso dos gestores regionais de efetuar serviços dessa natureza somente aos finais de semana. Por algum motivo, houve falha de comunicação entre a engenharia do BB (CSL), o prestador terceirizado e a agência, ocasionando o incidente.
O que mais preocupa é o teor da discussão, quando ponderamos todas as questões anteriores com os representantes do BB e reiteramos a determinação de fechar a agência. O representante do SESMT não poderia avaliar as condições ambientais por falta de equipamento. Após indagarmos sobre a legislação e o LIC, a não conformidade com a exposição dos seres humanos aos produtos químicos desde cedo, o engenheiro do BB saiu com uma mais brilhante frase: “o mundo é assim mesmo”!
Descobrimos a pedra filosofal da existência das áreas de suporte do BB: não importa a situação das agências, é preciso, apenas, suportar. Respondi um pouco asperamente que esta era uma compreensão digna do mundo da selva e que preferia me referenciar ao mundo civilizado, donde vinga a busca utópica do estado de direito. Acho que é para isso que serve o Sindicato, para garantir que os direitos de seus associados, direitos fundamentais e humanos, não sejam violados ou ameaçados. Inclusive do engenheiro do banco, sindicalizado ou não.
Acho que todo embate, por mais desgastante que seja, nos traz lições que, se tivermos um pouco de lucidez, nos farão crescer. David Noble, um estudioso da tecnologia revela o papel tecnocrático e organizativo dos engenheiros em relação às empresas, tomando como cenários as grandes corporações norte-americanas dos anos 30. Este grupo de profissionais passou a representar o tecnicismo disciplinador dentro das unidades do trabalho e a tecnologia passou a ser um instrumento de disciplina e controle. A tecnologia não como melhoramento da condição humana necessariamente, mas como adaptação às necessidades empresariais de disciplina (controle) sobre a “peãozada”. Os engenheiros ganharam prestígio profissional e social, não se reconhecendo mais como trabalhador e, sim, como um intermediário entre o substrato irracional do “chão de fábrica” e as chefias. Muitos resistem e procuram não se desviar do caminho, mantendo a sensibilidade humana, que o digam os meus amigos do SENGE (Sindicato dos Engenheiros). Creio que nosso colega estava num mau dia e não falou aquilo de coração. Se o fez, é uma pena. Mas, da próxima vez que ocorrer um problema similar, é bom saber: retiraremos as pessoas de dentro da agência para protegê-las. É o nosso papel!