Salário é “um risco muito importante” para a inflação, afirma BC. Assim começa a última pérola lançada pelo Banco Central. De tanto se repetir uma mentira, ela acaba se transformando em verdade, já diria Goebbels, o homem da propaganda nazista. Pronto! Basta repetir mil vezes na grande imprensa comprada (vive de publicidade) a mentira de que a culpa é do trabalhador, aquele que produz, que é chamado a ser “colaborador” e a aumentar a produtividade. Aumenta a produtividade, mas não leva. Leva é chumbo e um tapa na cara do excelentíssimo presidente do BC, Alexandre Antonio Tombini. Ora , “Tonhão”, responde essas questões:
a) Levantamento do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) mostra que, entre 2008 e 2011, o valor dos serviços cresceu até 124%, bem acima da inflação no período. A pesquisa, com dados do BC, leva em consideração os preços praticados após a norma da instituição que regulamenta a cobrança das tarifas bancárias, em vigor há três anos;
b) A especulação financeira chegou ao mercado de alimentos. E não há indícios de que vai parar. Para os produtores, essa movimentação pode significar preços maiores. Para os investidores, a possibilidade de aumentarem os lucros. Para as bolsas, uma liquidez mais atraente. Para os pobres, simplesmente a fome;
c) O aumento do consumo por populações saídas da situação de pobreza em países emergentes como China e Índia. Esse crescimento vem acompanhado da mudança do padrão de consumo. As pessoas não só comem mais, como procuram mais carne, ovos, laticínios. Já que um quilo de alimento animal implica em dez quilos de alimento vegetal na forma de rações, a demanda por grãos cresce (que tal jogar uma bomba nesse “gente diferenciada” para que pare de comer?);
d) A utilização de bens alimentares para a produção de agrocombustíveis, como a beterraba e a canola na Europa, a soja no Brasil e, particularmente, o milho nos Estados Unidos, em que se gasta 10% da produção mundial desse grão para obter etanol;
e) A desvalorização do dólar enquanto unidade do mercado internacional. Como Delfim Netto destacou, comparando o The Economist Commodity Price Index (índice de preços de commodities medido em dólares com o em euros), a mesma cesta de produtos está 70% “mais cara” em moeda americana;
f) Três décadas de acordos de livre comércio e políticas neoliberais que, nas palavras de Peter Rosset, do Centro de Estudos para a Mudança no Campo Mexicano (Ceccam), desmantelaram a capacidade da maioria dos países de produzirem o seu próprio alimento enquanto promoviam a agricultura de exportação e o crescimento das empresas transnacionais. Dessas grandes companhias com sede principalmente nos EUA e Europa, 40 compõem o cartel das seis transnacionais de grãos (Cargill, Continental CGC, Archer Danields Midland, Louis Dreyfus, Andre Corporation e Bunge), que passaram a controlar a produção e a comercialização dos principais produtos. Segundo a organização não governamental ActionAid, nos meses recentes, a Cargill teve um aumento de 86% em seus lucros e a Archer Daniels Midland, de 700% nos ganhos de sua divisão de serviços agrícolas;
g) O jogo duplo dos governos das nações desenvolvidas. Por um lado, dão subsídios e colocam barreiras para garantir sua própria produção agrícola com preços que configuram como dumping sobre outros países (são U$ 50 bilhões anuais de subsídios na União Européia). Por outro, exigem a liberalização dos mercados dos países em desenvolvimento, desestruturando, em muitos casos, a soberania alimentar dos mesmos. Até 1960, a grande maioria dos países era auto-suficiente na produção dos alimentos. Hoje, 70% das nações do hemisfério sul, onde vivem 4,8 bilhões de pessoas, se transformaram em importadores desses produtos;
h) A catástrofe em câmara lenta apontada por especialistas em agricultura e desenvolvimento. Como Ladislau Dowbor ressaltou, a expansão da monocultura extensiva, das sementes caras e monopolizadas, dos circuitos comerciais cartelizados, das tecnologias pesadas, da esterilização dos solos por excessiva quimização (a cada ano perde-se 1,5 milhão de hectares cultivados em função da salinização das terras) e da irrigação em grande escala com esgotamento dos aquíferos (hoje a agricultura consome 70% de toda a água potável) estão provocando um círculo vicioso de desestruturação que ameaça o planeta;
i) A especulação nas bolsas de futuro, que transforma a fome do mundo na nova fonte de lucro do capital financeiro;
j) O governo tem parcela expressiva de culpa na alta da inflação, com seus preços administrados. E a tendência é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continue a ser pressionado pelos serviços e produtos com preços sob controle ou vigilância do governo (empresas privatizadas na “privataria” de FHC e mantidas no governo Lula e que controlam as agências controladoras);
Que tal começar pelo salário do BC, dos congressistas, dos magistrados? Esses ganharam aumentos MUITO acima da inflação. São dez questões, tenho mais 500, dá um livro! Quem mente por desconhecimento é ignorante, quem mente conscientemente é criminoso.
Trabalhadores do Brasil, uni-vos contra a mentira mal intencionada!