Estudo da USP mostra que homens negros são os mais impactados com o desemprego causado pela alta taxa de juros do Banco Central. CUT e entidades farão intensa mobilização a partir desta sexta-feira (16).
A estratégia de boicote ao atual governo, adotada pelo Banco Central (BC), que mantém em patamares elevados a taxa de juros básica do país (Selic), afeta diretamente os vários segmentos da população brasileira. Além de elevar o nível de endividamento dos brasileiros, que são obrigados a pagar juros altos nas operações mais tradicionais, como o cartão de crédito, financiamentos, entre outras, tal política faz com que a economia trave impedindo investimentos pelo setor produtivo, paralisa o consumo e o resultado se traduz também em desemprego.
O sistema financeiro é o setor que mais lucra com a taxa Selic alta. Mesmo em um cenário de crescimento restrito em 2022, os cinco maiores bancos do país obtiveram um lucro líquido de cerca de R$ 106,7 bilhões. Os dados são do estudo “Desempenho dos bancos 2022”, elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). De acordo com a economista do Dieese, Vivian Machado, afirma que o montante acumulado pelos bancos se deu em grande medida pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%.
Do outro lado, quem mais perde é a classe trabalhadora, seja pelo endividamento em financiamentos mais caros, seja pelo desemprego causado pela política do BC. “A taxa de juros do Brasil, que é a maior taxa do mundo, dificulta o crescimento da economia, a geração de empregos o provoca um aumento do endividamento das famílias brasileiras. Com juros mais altos, contas a pagar ficam mais altas, o que impacta diretamente no orçamento do brasileiro”, ela diz.
Um outro estudo, realizado pelas pesquisadoras do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da faculdade de economia da USP (FEA/USP) Clara Brenck e Patricia Couto, com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), confirma o desemprego como consequência da alta taxa de juros. “A estratégia por trás desta política está na suposição que a inflação ocorre devido a pressões de demanda. Desta maneira, mudanças na taxa de juros afetam negativamente a demanda, aliviando pressões inflacionárias. Um dos efeitos adversos desta política é o aumento no desemprego”, diz o estudo.
Para além do desemprego, o estudo apontou que, ao longo dos anos, as elevações da Selic pelo Banco Central, também contribuíram para o aumento da desigualdade social. Os dados mostram que para cada um ponto da taxa Selic, o desemprego aumenta mais entre os homens negros do que os demais. Se a Selic sobe 1 ponto percentual, o desemprego dos homens brancos aumenta em 0,1 ponto em sua taxa, enquanto, para os homens negros, aumenta 0,32, ou sejam 1,2 ponto percentual a mais.
Isso ocorre, de acordo com o estudo, porque, em uma comparação com homens brancos, os homens negros estão em empregos de menor renda e mais precários, que exigem menor qualificação e menos escolaridade. Estão, desta forma, mais sujeitos às variações do mercado de trabalho, ou seja, são os que mais perdem o emprego. Outro ponto levantado é de que homens, em geral, são os que mais perdem o emprego por estarem em maior número em setores ligados ao crédito como construção e indústria.
#JurosBaixosJá
Frente à intransigência do bolsonarista Roberto Campos Neto, presidente do BC, que insiste em afirmar, falaciosamente, que é preciso a economia dar sinais de estabilidade para a inflação baixar e, então, ‘lá na frente’, baixar os juros, a CUT, centrais sindicais, movimentos populares, em consonância com o setor produtivo, começam nesta sexta-feira (16) uma jornada de lutas contra os juros altos, exigindo que o BC reveja – para baixo – os atuais 13,75% de juros ao ano. A mobilização contra a política econômica imposta pelo Banco Central já é permanente nas redes sociais e será reforçada com atos de rua.
Já no dia 16, haverá um tuitaço organizado pela CUT e entidades com a hashtag #JurosBaixosJá, a partir das 8h00. A ação nas redes se repetirá no dia 19, segunda-feira. Já no dia 20, serão feitos atos em frente às sedes do Banco Central em várias cidades brasileiras para intensificar a pressão pela queda dos juros. Os dias 20 e 21 são as datas em o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) se reunirá para definir a taxa de juros a ser praticada pelos próximos meses.
Fonte: CUT Brasil