PRODUTO INTERNO BRUTO OU FELICIDADE INTERNA BRUTA?
Foi aprovada na Comissão de Justiça do Senado Federal, seguindo agora de votação em plenário, Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que incluirá no art. 6° da Constituição Federal, “o direito à busca da felicidade”.
A iniciativa tem apoio da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e pela Associação Nacional dos Defensores Públicos (ANDP) e, tem como principal objetivo pressionar o Estado a elaborar políticas cujo parâmetro público seja a felicidade. Como o Estado Burguês tem servido historicamente aos interesses do capital, suas políticas ganharam e ganham conotações economicistas em excesso. O ser humano passa a ser um “fator de produção” a ser formado para ter máxima eficiência e valorizar o seu “capital humano”, ainda que isto tenha um custo desumano. Que o digam os chineses que cumprem jornadas de trabalho de 14 a 16 horas diárias.
Há um movimento internacional pela inclusão de valores subjetivos que não obedeçam somente à relação com o crescimento do PIB. Passam pelo Japão, Coréia do Sul, EUA e até a França, cujo mandatário Sarkozy encomendou estudos a dois Nobel de economia no intuito de encontrarem parâmetros de avaliação de desenvolvimento de uma nação.
ONG’s e grupos de pensadores (think tanks) têm se debruçado sobre o assunto: A Política da Felicidade, Um Manifesto, elaborado pelos finlandeses do Demos com apoio da WWF, preconiza algumas medidas que poderiam nos conduzir a uma vida melhor:
1) Tempo Livre com mais qualidade;
2) Transformar espaços públicos em lugares significativos;
3) Ações importantes em conjunto, saindo da esfera do trabalho “utilitarista”;
4) Cultura do bem-estar, o que significaria alterar na base a filosofia de vida, menos voltada par ao lucro e mais para o ser humano;
5) A reconstrução dos laços com amigos, vizinhos e familiares.
No Brasil, o movimento é capitaneado por cerca de 300 ONG’s e a discussão pode ser encontrada no site do movimento Mais Feliz.
Ainda na faculdade de economia, tive um professor de EPB (Estudos de Problemas Brasileiros), matéria já extinta assim como o aramaico. Este professor fazia uma analogia com o conceito de média (X): “Coloque uma mão numa bacia de água fervendo e a outra numa bacia com água fria, a média será morna”.
Ele utilizava este exemplo simples para relacionar com o conceito de “renda média” ou renda per capita, chamando a atenção para o “economicismo” dos então tecnocratas brasileiros que justificavam que a renda per capita do brasileiro crescia, ainda que a miséria crescesse mais que proporcionalmente. A insuficiência deste parâmetro levou a se utilizar outros índices, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH – educação, longevidade, renda) e Índice de Valores Humanos (IVH – percepção do indivíduo sobre a espera na fila de um médico, condições de trabalho e mobilidade, por exemplo).
Uma pesquisa do instituto Gallup, entre 2005 e 2009, indicou que o brasileiro é o 12° povo mais feliz do mundo. Algumas observações feitas pelo idealizador do movimento Mais Feliz chamam atenção para o fato de o brasileiro confundir sua descontração e alegria com felicidade. Se perguntado sobre as condições de sua cidade, bairro, transporte, segurança, saúde, emprego, o conceito muda. Rir da desgraça é muito diferente de estar feliz. Freud identificou na piada uma forma de sublimação da realidade.
O termo solidariedade foi capturado pela mídia e pelas peças de propaganda, sendo metabolizado e transformado em caridade. Nada mais conveniente para acomodar as consciências voltadas para o mercantilismo. Uma esmola resolve. Até as 18 horas, depois as crianças retornam para suas realidades. A primeira greve da Renault, ainda nos anos 30, durou mais de um mês e a comunidade levava alimento para os que resistiam e brigavam pelo direito de ter o domingo livre e férias remuneradas. Não foi esmola, foi reconhecimento dos que lutavam pelo direito de todos. Uma percepção solidária para pessoas que buscavam ser mais felizes.