Sérgio Nobre representou a CUT em reunião que definiu a retomada do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI)
O presidente da CUT Sérgio Nobre, participou nessa quinta-feira, 06 de julho, em Brasília, da 17ª reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), que marcou a sua retomada, após ser desativado em 2016, ano do golpe contra a ex-presidenta Dilma Roussef (PT). Durante o encontro, ele alertou que qualquer iniciativa para desenvolvimento do setor passa pela queda dos juros.
Ele lembrou que em encontro com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na última quarta-feira, 05 de julho, as organizações sindicais alertaram para a dificuldade em implementar medidas de desenvolvimento diante da taxa de juros de 13,75% imposta pelo Banco Central (BC).
Na ocasião, as centrais pediram a exoneração do presidente do BC, Campos Neto. “Dissemos que podemos ter a melhor política industrial e a melhor reforma tributária do mundo, mas com taxa de juros a 13,75%, obrigando o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], principal banco de fomento, a fazer empréstimos com essa taxa e mais o custo do banco, que chega a 21%, como vamos crescer?”, questionou.
“Exigimos que esse tema fosse tratado no Senado e o Pacheco afirmou que convocou o Campos Neto a estar dia 3 [de agosto] na Casa para uma sabatina. As centrais sindicais estarão lá”, prosseguiu.
Política industrial
Nobre apontou ainda que nos últimos quatro anos não houve qualquer política industrial desenvolvida pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), e isso resultou no aprofundamento da crise enfrentada pelo segmento. Em 1985, a indústria de transformação representava 36% do Produto Interno Bruto (PIB), índice que passou para 11% em 2021.
A queda preocupa porque o setor é responsável por ampliar a geração de empregos qualificados e promover o crescimento dos demais segmentos devido a cadeias produtivas longas. Além disso, sem uma indústria forte, o Brasil exporta mais matéria-prima, com valor mais baixo, e importa o produto pronto a um valor mais caro num processo que gera oportunidades de trabalho em outros países e prejudica o desenvolvimento nacional.
Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicam ainda que a cada R$ 1 produzido na indústria de transformação, são gerados R$ 2,43 na economia como um todo. Como comparativo, na agricultura, o mesmo valor traz um impacto de R$ 1,75 e no comércio e serviços, R$ 1,49.
O dirigente da CUT falou também que a classe trabalhadora tem se debruçado sobre saídas para o setor por meio de iniciativas como a IndustriAll, que reúne centrais sindicais de todo o mundo com representação na indústria. Ele defendeu ainda a necessidade de iniciativas transversais com foco no desenvolvimento social.
“Esse país não tem saída se não houver uma base industrial muito forte e inovadora, mas a reindustrialização vai passar pelo combate às desigualdades e pelo tema ambiental, habitação e saneamento, que precisam de programas agressivos”, disse.
Confira um trecho da participação de Sérgio Nobre no encontro:
Debater a indústria
O CNDI foi criado em 2004 durante o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e reúne 20 ministros, além do presidente do BNDES e 21 conselheiros representantes da sociedade civil, inclusive, da classe trabalhadora, que tem a CUT como uma de suas representantes.
O objetivo do conselho é retomar políticas industriais que promovam inovação e competitividade internacional, mas com inclusão socioeconômica, capacitação profissional, respeito ao meio ambiente e redução das desigualdades.
Durante a reunião de retomada, o governo anunciou a ampliação do programa “Brasil Mais Produtivo”, lançado em 2016 para oferecer consultoria às micro, pequenas e médias empresas brasileiras e a assinatura de Acordo de Cooperação Técnica para promover o desenvolvimento tecnológico e a ampliação da oferta de máquinas, implementos, equipamentos e tecnologias adaptados às necessidades da agricultura familiar.
O CNDI destacou ainda que a nova política industrial brasileira tem seis missões que devem ser cumpridas nos próximos anos:
- Promoção de cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar e nutricional;
- Complexo econômico industrial da saúde resiliente para reduzir as vulnerabilidades do SUS e ampliar o acesso à saúde;
- Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis para a integração produtiva e o bem-estar nas cidades;
- Transformação digital da indústria para ampliar a produtividade;
- Bioeconomia, descarbonização;
- Transição e segurança energética para garantir os recursos para as futuras gerações e tecnologias de interesse para a soberania e a defesa nacionais.
A expecativa é que, anualmente, sejam disponibilizados pelo governo federal R$ 26,5 bilhões em recursos, que ao final de quatro anos devem atingir R$ 106 bilhões aplicados no setor.
Fonte: CUT Brasil